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    What's the T?
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    What's the T?

    Histórias de transexuais

    por Bruno Carmelo

    Este documentário começa da maneira mais intimista possível: o diretor Cecilio Asuncion coloca-se em tela, tocando a campainha de uma casa. Quem abre a porta é Nya Ampon, transexual extrovertida e muito maquiada, que pula freneticamente para exibir ao cineasta o movimento dos novos seios, colocados poucos dias atrás. Os dois riem juntos, e depois sentam à mesa para contar histórias. Este tom amigável atravessa What’s the T? – gíria típica do mundo LGBT, usada para perguntar “O que há?”.

    Um dos maiores méritos deste filme é justamente a proximidade do diretor com as entrevistadas. As cinco transexuais em destaque parecem muito confortáveis para dizer o que pensam, sem querer impressionar. Elas mostram as suas casas desarrumadas, as suas aulas chatas na universidade, o escritório banal em que trabalham. Existe uma sensação de rotina comum, que poderia ser semelhante à da maioria de pessoas cisgênero dentro das salas de cinema. Isto é algo bem-vindo em um retrato da comunidade trans, frequentemente ilustrada sob uma ótica fetichista ou vitimizante.

    O ritmo da produção também é divertido: Nya Ampon, Rakash Armani, Cassandra Cass, Vi Le e Mia Tu Much são dotadas de um senso de humor sarcástico e feroz, provável mecanismo de defesa aperfeiçoado por indivíduos acostumados ao preconceito. As frases que dizem sobre seus medos e conquistas, seus amores e decepções, são impagáveis. Para garantir o tom despretensioso do filme, Asuncion evita qualquer retrato de violência ou prostituição (Cassandra chega a citar o momento em que quase se prostituiu, mas mudou de ideia). What’s the T? pode ser considerado otimista demais, mostrando apenas um grupo seleto de trans de classe média-alta, mas a sua ideia está longe de um retrato representativo e político de transexuais, travestis e transgêneros.

    Tecnicamente, o filme deixa a desejar, com suas câmeras tremidas, constantemente em busca de um enquadramento, além da iluminação superexposta e o registro digital de baixa qualidade. Este aspecto parece derivar das prioridades do cineasta, que prefere a intimidade (com câmeras próximas, sem tripés ou grandes equipes) a um trabalho elaborado de estética cinematográfica. Resta uma produção simples, que poderia ter obtido relatos ainda mais contundentes das pessoas retratadas, mas contenta-se com um prazeroso bate-papo entre amigos.

    Filme visto no Rio Festival Gay de Cinema 2014

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