Apesar de iniciar o filme com expectativa positiva em razão do talento do elenco, mesmo sem muito conhecimento sobre a história retratada, Only the Brave começa aparentando ser mais um filme americano dotado de ufanismo, exaltação de heróis anônimos, mas que pecaria ao trazer personagens mal trabalhados e focar em efeitos especiais fantásticos e sequências de ação e de comoção baratas. Não foi o que aconteceu ao decorrer do filme. A direção e roteiro são felizes no modo como trabalharam o grupo de bombeiros, em especial quanto aos personagens de Josh Brolin(Eric Marsh) e de Milles Teller(Brendan “Donut” McDonough), e da luta pela qualificação da equipe em uma força de elite, os Granite Mountain Hotshots. O roteiro acerta ao desenvolver principalmente a história do superintendente da brigada (Josh Brolin) e do único sobrevivente do incêndio, Brendan McDonough (Miles Teller), dando a ambos um arco de evolução a suas personagens que nos faz torcer e nos identificar com suas lutas internas e com o mudo ao redor. Apesar de não serem trabalhadas satisfatoriamente as dificuldades e angústias que passa Amanda Marsh (Jennifer Connelly), esposa de Eric, em razão da prioridade que a brigada tinha na vida de seu marido, a atriz permite que a dor de se sentir diminuta na vida do homem que ama transbordar na tela em diversos momentos de sua participação.
O verdadeiro destaque de atuação está no trabalho de Josh Brolin e, principalmente, Milles Teller, uma vez que o grande Jeff Brigdes(Duane Steinbrink) parece estar amordaçado pela indústria do cinema em um typecasting do típico americano cowboy, sulista, com sotaque carregado e de personalidade plana e nada comovente. Brolin consegue através de sua dificuldade de se entregar por completo a sua esposa e de sua completa devoção ao seu trabalho e a sua equipe de bombeiros, trazer camadas a esse herói de jeito “machão” e com forte espírito de liderança, a partir de sua luta para aceitar as escolhas que fez em sua vida. Já Milles Teller está espetacular com seu personagem que atravessa a típica “Jornada do Herói” (tipo criado por Joseph Campbell), ao sair da imagem do jovem drogado e irresponsável para um bombeiro de elite após ser expulso de casa e descobrir que seria pai de uma menina. Interpretações comoventes e que nos conectam aos heróis dessa emocionante história. Não menos importante e louvável é o trabalho da direção que é bem-sucedida na construção das cenas de interação dos membros da brigada, desenvolvendo a união, companheirismo e cumplicidade desses homens que viveram e morreram em função da sua profissão, colocando-a acima de qualquer outra coisa, inclusive de suas vidas. As cenas com imagens panorâmicas, aéreas e as em solo firme, tanto das florestas intactas como também destas durante os incêndios, mostram o ótimo trabalho do diretor e da fotografia do filme ao envolver o expectador no clima de encanto e beleza que a natureza exala, e mostrar também sua imprevisibilidade e perigo diante da impotência do homem de controlar sua força devastadora.
O filme consegue fugir de muitos clichês do gênero e se torna um filme bonito e sem as hipérboles desnecessárias e sem objetivo dentro da narração, elemento tão comum a filmes baseados em fatos heroicos. Claro que o filme tem suas falhas, em especial na primeira hora, que acaba se arrastando um pouco durante a apresentação dos personagens e uma conclusão não explorada devidamente, deixando a desejar quanto a profundidade do evento que tirou a vida dos bombeiros e de suas consequências para aqueles que faziam parte de suas vidas. Ademais é um filme que vale a pena conferir e que possui uma história marcante e que merecidamente foi eternizada no cinema.
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