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    Eduardo e Mônica
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    Gesner
    Gesner

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    4,0
    Enviada em 23 de janeiro de 2022
    "Eduardo e Mônica" não poderia ser mais oportuno para o Brasil dos tempos que correm. Os algoritmos das atuais plataformas das redes sociais jamais aproximariam os dois personagens principais, pertencentes a tribos radicalmente distintas. Mas eles se encontram e constroem um canal de comunicação.
    Há uma virtude em reconhecer um grão de verdade no argumento do adversário ou conseguir enxergar o mundo com as lentes do outro. Ou até mesmo reconhecer o valor do guerreiro inimigo abatido no campo de batalha e beber seu sangue para herdar sua coragem. Esta capacidade de dialogar, interagir e construir com o outro está na base não apenas das relações amorosas, mas do conjunto das relações humanas e da construção democrática.
    O personagem Eduardo tem esta capacidade maravilhosa de fechar os olhos e se colocar na posição do outro. Tem uma outra virtude admirável de fruir uma canção de Bonnie Tyler sem se preocupar com o que o resto da tribo vai dizer. É uma postura madura, curiosamente encontrável na espontaneidade ingênua das crianças e adolescentes que ainda não foram travados pelos códigos castradores de tribos adultas.
    O filme também mostra uma Brasília desconhecida dos brasileiros em uma fase intensa do país em meio ao início da redemocratização. Era o limiar da Nova República que ainda não superou direito as sequelas de vinte anos de regime autoritário e carrega consigo vícios de mais de quinhentos anos de história pós-colombiana.
    Para além do contexto político, "Eduardo e Mônica" capta uma Brasília culturalmente efervescente, pelo menos para uma parcela minoritária da população que pode pensar para além da sobrevivência cotidiana.
    O espectador também é apresentado a uma Brasília mágica, envolta por um céu espetacular e bem capturado em uma das cenas do filme. Confesso que senti falta da sonoplastia das cigarras, cujo canto ensurdecedor anuncia a esperada chegada das chuvas que mudam subitamente a cor da cidade. Com o fim da estiagem a cor de Brasília passa do marrom para o verde com a mesma velocidade com que são gestadas as crises políticas; ou na qual vira o humor da cativante personagem Mônica!
    Enfim, sai de casa para ver um filminho gostoso e fui brindado com uma obra tão robusta quanto oportuna no Brasil de 2022.
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