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    Eduardo e Mônica
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Eduardo e Mônica

    Música e cinema que se completam (que nem feijão com arroz)

    por Aline Pereira

    Eduardo abriu os olhos, mas não quis se levantar. Um dos versos mais famosos da música brasileira também começa o filme Eduardo e Mônica, nova produção baseada na canção do Legião Urbana e dirigida por René Sampaio (Faroeste Caboclo). Com Gabriel LeoneAlice Braga nos papéis principais, o longa tinha muitos pratos para equilibrar, da responsabilidade com o legado de Renato Russo à adaptação de linguagens muito diferentes. Missão cumprida: Eduardo e Mônica é um filme de aquecer o coração.

    Assim como na música de 1986, nossos protagonistas são pessoas cheias de diferenças - da idade aos gostos musicais - que, por razões que podem existir ou não, como já diria o poeta, se encontram. A partir daí, acompanhamos o desenrolar de uma história de amor que é tão lúdica, quanto "pé no chão" à sua maneira, e que consegue traduzir o espírito da música. É impossível não torcer pelo final feliz do casal e esta talvez seja a grande comprovação de que um romance funcionou na tela.

    Como transformar quatro minutos em duas horas?

    Se Faroeste Caboclo, com seus quase dez minutos de duração, parece um roteiro de filme do começo ao fim, Eduardo e Mônica é uma música cheia de saltos temporais e construída a partir de fragmentos. Estas lacunas, claro, precisariam ser preenchidas para se tornar uma história de quase duas horas. Na música, Renato Russo não diz exatamente sobre o que os dois “conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer”, mas o roteiro e a direção capturaram a essência. 

    As histórias “estendidas” dos protagonistas se encaixam bem com a ideia que já tínhamos sobre os personagens da música e, sabendo quem eles são e o que pensam, fica fácil entender por que se apaixonaram. Além disso, é ótimo ver os coadjuvantes ganharem espaço: citados de passagem na música, o “carinha do cursinho” e o avô que jogava futebol de botão, interpretados por Victor Lamoglia e Otávio Augusto, também se tornam pessoas completas e indispensáveis à história.

    Assim, com contextos e personagens mais profundos se formando ao redor do casal, o filme vai além da música do Legião Urbana. Os fãs certamente vão se sentir mais tocados pela nostalgia e pela história, claro, mas ela também não perde em nada para as boas comédias românticas que temos hoje no cinema e na televisão.

    Comédia romântica e mundo real se encontram em Eduardo e Mônica

    Renato Russo buscou inspirações em pessoas que conhecia e em si na criação de sua obra, dando o toque de realidade que nos aproxima tanto dos personagens - assim acontece também com o filme. Mônica e Eduardo estão longe da perfeição e levam vidas que parecem muito reais: ele, na adolescência confusa e insegura, ela, nos dilemas da vida adulta. Nesse meio do caminho estão os encontros e desencontros que formam a base do gênero de comédia romântica, mas com a beleza e o caos da vida real, tão bem trabalhados na obra do Legião Urbana. 

    É provável que a maioria de nós tenhamos conhecido (ou sido) Mônicas e Eduardos ao longo da vida e, sem conflitos gigantes ou reviravoltas abruptas, ficamos com as tensões do dia a dia. É possível conciliar os interesses para viver um romance? É preciso abrir mão de algo? Um relacionamento entre duas pessoas muito diferentes funciona? Nesse sentido, Eduardo e Mônica é um acalanto e traz todas estas questões com leveza e tranquilidade.

    Alice Braga e Gabriel Leone são um ótimo casal

    Recentemente, vimos Alice Braga em O Esquadrão Suicida, em A Rainha do Sul (série que protagoniza desde 2016) e, agora, em um papel muito mais “tranquilo” em Eduardo e Mônica. Uma das principais artistas da geração, sem dúvidas, e com uma versatilidade de impressionar: sua personagem traz um carisma enigmático que nos faz acreditar que esta mulher, com um ar tão experiente, poderia, sim, se apaixonar por um garoto muito mais jovem.

    Do outro lado, Gabriel Leone parece ter atravessado uma máquina do tempo: vindo de uma carreira de destaque na dramaturgia e, mais recentemente, como protagonista de DOM, série do Prime Video que vai ganhar nova temporada, a transformação é grande. Interpretando um adolescente em fase pré-vestibular, não só a aparência chama a atenção, mas também a naturalidade na postura e na forma de se comunicar - há algo de ingênuo, mas também de muito maduro, em Eduardo que vai apagando, pouco a pouco, as diferenças entre ele e sua musa.

    Eduardo e Mônica tem final surpreendente

    A canção do Legião Urbana revela, no fim, o que aconteceu com o casal anos depois - quando não puderam viajar porque o filhinho do Eduardo estava de recuperação -, mas o filme surpreende ao dar uma outra leitura sobre o destino do casal. Não vamos dar spoilers aqui, é claro, mas ainda assim vale destacar que os momentos finais de Eduardo e Mônica emocionam com um visual poético e fantasioso, que também é uma forma de homenagear a importância artística do Legião Urbana e desta canção para a música brasileira.

    Com a junção de todos estes elementos, o filme deve agradar aos fãs mais assíduos justamente porque, mesmo com mudanças e complementos, é fiel à emoção da música. “É um mergulho muito profundo. Não paramos na adaptação da música, fomos entender também o universo musical do Renato Russo: o que o Bauhaus significava, o que havia dele na história da Mônica. Mergulhei e trabalhei muito nesse universo, que é um prazer para mim”, disse o diretor René Sampaio em entrevista ao AdoroCinema.

    De fato, o universo de Renato Russo além da música fica claro com a conexão da história a pontos importantes de Brasília, onde a banda nasceu, e nas músicas que compõem a trilha sonora. Aliás, há até um easter egg bem-humorado de Faroeste Caboclo

    Com lançamento previsto originalmente para 2020, Eduardo e Mônica foi adiado em mais de um ano por conta da pandemia, mas parece vir numa boa hora, em que uma história tranquila para curtir junto com uma pipoca não vai fazer mal a ninguém. “O maior objetivo era ser um abraço para o público, em um momento em que estamos precisando tanto disso. De falar de amor, das diferenças, de aprender com o outro”, como nos disse também Alice Braga. 

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