Na década de 80, o diretor e roteirista Shane Black revolucinou os filmes de ação nos cinemas através dos roteiros de Máquina Mortífera (1987) e Máquina Mortífera 2 (1989) mesclando com perfeição bons momentos de humor com cenas de ação. Sendo assim desde então Hollywoody bebe da fonte de Black e consequentemente tornou o tema batido. E apesar do sucesso de seu roteiro nos filmes estrelados por Mel Gibson e Danny Glover, Shane Black só veio a dirigir seu primeiro filme em 2005: Beijos e Tiros, estrelado por Robert Downey Jr. E depois de dirigir o frustrado mas bom Homem de Ferro 3 (2013) Black volta para sua zona de conforto para dirigir Dois Caras Legais (The Nice Guys, no título original).
Shane Black conta uma história ambientada em Los Angeles, no ano de 1977. Os protagonistas são Jackson Healy (Russel Crowe) uma espécie de mercenário para adolescentes e o ex-policial e atual investigador particular Holland March (Ryan Grosling), que pegam o mesmo caso e contratados pela Chefe do Departamento de Justiça Judith Kuther (Kim Basinger) começam a investigar o sequestro da sua filha Amelia (Margaret Qualley).
Para início de conversa, são míseros aspectos negativos que norteiam a produção de Black: talvez a atuação de Beau Knapp que faz o coadjuvante Blue Face seja no mínimo exagerada e o chroma key usado numa das cenas seja ruim — apesar desse fator combinar com a atmosfera dos anos 70 do filme. Contudo, um dos únicos erros que precisam ser pontuados é o início meio confuso e bagunçado que Shane Black usa para finalmente chegar a história que quer contar.
E por último aspecto negativo temos a história da esposa do detetive March. Apesar de Grosling dar todo o seu carisma para o personagem não há como se emocionar com a morte da esposa em qualquer ponto que esta seja citada — nem numa das cenas finais quando a "tatuagem" do personagem acaba sendo alterada. Isso se deve ao fato da trama paralela ser completamente descartável e acabar tropeçando no ritmo do filme. Apesar disso, os erros não se tornam tão fritantes e o filme acaba se tornando uma comédia perfeita e cumpre cem por cento o sua premissa.
Sendo assim, partimos direto para os aspectos positivos. A começar pela linguagem usada pelo diretor, que no começo do filme já deixa devidamente claro o que quer mostrar para o público: a primeira imagem do filme mostra traseiro do letreiro de Hollywoody: uma imagem suja e nada parecida com a que é vendida. Sendo assim, Shane Black nos mostra que na verdade a história se trata do lado sujo de Hollywoody, o que acaba se revelando ao desenrolar do longa.
O ponto alto mais gritante é a relação e a dinâmica entre os protagonistas, o detetive Holland March e o brucutu Jackson Healy. Além de ambos os personagens terem um excelente desenvolvimento que melhora ainda mais o desempenho de ambos os atores, Shane Black trabalha como ninguém os dois parceiros completamente opostos, provando que ele domina a área que acabou "criando". O entrosamento dos dois rendem boas cenas de ação e risadas de tirar o fôlego e como se não fosse o suficiente Shane Black dá um acréscimo a mais: Holly March, filha do detetive interpretada pela atriz Angourie Rice, que tem um ótimo desempenho e consegue criar uma personagem tão carismática e cativante quanto os protagonistas e o restante do elenco do filme.
A ambientação e o figurino dos anos setenta estão impecáveis, assim como os diálogos de época e as personalidades de 1977. Além do mais, Black usa de pano de fundo um tema político bastante abordado pelos hippies na época que só serve para enriquecer ainda mais o roteiro — que, no geral, é bem elaborado e desenvolvido e não conta com pontas soltas e acaba contribuindo ainda mais para tornar o longa a ótima experiência que é; as cenas de ação são bem coreografadas e as tiradas de comédia para aliviar a tensão são bastante pontuais e inteligentes.
As atuações estão ótimas na medida do possível. Apesar de Russel Crowe já ter uma carreira extensa e consequentemente nesse filme não oferecer nada de inovador — parecendo mais uma mistura de Maximus (Gladiador - 2000) e John Nash (Uma Mente Brilhante – 2001) — sua atuação permanece impecável e o ator consegue se achar perfeitamente no personagem. Ryan Grosling dá um excelente desempenho como Holland March e contribui para a ótima química que rola entre ele e Crowe durante toda a produção.
Dois Caras Legais marca a volta de Shane Black para a sua zona de conforto e oferece uma das melhores comédias de ação do ano. Deixando explícito uma sequência no futuro, o longa estrelado por Crowe e Grosling, além de ser uma surpresa para grandes fãs da franquia Máquina Mortífera, é uma diversão em alto nível técnico e emocionante.
Nota: 9,5/10