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    Fourplay
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Fourplay

    Todas as formas de prazer

    por Bruno Carmelo

    Quatro curtas-metragens integram o curioso Fourplay, sempre com um tema em comum: a descoberta de novas formas de prazer sexual. No comando de todas as histórias, o diretor Kyle Henry consegue adequar tons muito distintos ao mesmo tópico, do drama conjugal à comédia ingênua, do suspense ao pastelão grotesco. Não existe um discurso único defendido sobre o prazer, e sim uma pluralidade de formas e ideias agenciadas de maneira voluntariamente caótica. Henry parece sugerir que tudo vale, que toda a experiência é positiva.

    Assim, as histórias combinam temas controversos, tratados com leveza. Em Skokie, uma mulher lésbica experimenta o potencial erótico das lambidas de uma cadela. Em Austin, um casal em crise consegue reatar apenas quando fingem ser outras pessoas, na cabine erótica de uma vídeo locadora adulta. Em Tampa, um homem de pênis minúsculo busca sexo com outros homens em um banheiro público, e presencia uma gigantesca orgia envolvendo Sherlock Holmes, Hitler, Jesus, irmãos Marx e outras personalidades. Por fim, San Francisco traz uma travesti encarregada de dar prazer a um homem enfermo, preso a uma cama, e sem poder falar uma palavra sequer.

    O filme poderia despertar escândalo pelas imagens abordadas (afinal, dificilmente um artista retrata uma imagem de sexo gay com Jesus e sai ileso). Mas Fourplay não se leva a sério, adotando um tom de absurdo que remete ao distanciamento, ao sonho, ao ideal. Nenhum destes fatos parece de fato estar acontecendo, podendo constituir unicamente delírios eróticos dos personagens envolvidos. Tamanho onirismo permite que o diretor retrate praticamente qualquer tema - o que constitui a sua liberdade, e também a sua fraqueza.

    Afinal, apesar de momentos realmente tocantes (em San Francisco) e de atuações bastante sólidas (em particular de Sara Sevigny em Skokie, e de Paul Soileau em San Francisco), Fourplay não deixa de parecer uma brincadeira, uma divertida travessura cinematográfica de um diretor jovem. O filme não é trash, underground nem inovador o suficiente para ser marcante, para ser considerado um tratado político ou estético sobre a sexualidade. Ele também é desigual, como pode se esperar de uma obra episódica.

    Mesmo assim, o filme de Kyle Henry proporciona uma sessão agradável, uma espécie de festa sensorial quanto à representação da sexualidade. São raras as obras que colocam em pé de igualdade heterossexuais e homossexuais, cisgêneros e transgêneros, sem idealizar nem ridicularizar nenhum deles, imputando as mesmas dificuldades e prazeres a todos os indivíduos e corpos. Além disso, é um mérito notável abordar com tamanha leveza um tema cercado por tantos tabus e preconceitos quanto o sexo.

    Filme visto no Rio Festival Gay de Cinema 2014.

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