Com certeza O MELHOR filme que já assisti sobre a homossexualidade masculina.
Atual e construido partindo de uma perspectiva identitária e engajada, sem as bizarrices pós-modernas e a desmobilização "queer", vemos as fases da vida dos homossexuais masculinos (em analogia com as fases da lua): a infância e a própria auto-descoberta (o rapazinho que deseja explorar o corpo do primo, sendo punido pelo seu desejo), a pós-adolescência e a vivência primeira do amor, na época da Universidade, a idade adulta (o casal que está junto há dez anos e vivencia uma crise) e a terceira idade.
Nossa primeira constatação é a absoluta similaridade da sociedade mexicana em relação à nossa própria, no que refere à homossexualidade masculina: o pai do garoto que inicialmente não o aceita e num momento seguinte o prepara para proteger-se e revidar agressões; a mãe do jovem universitário que inicialmente pede para que ele "não conte aquilo que precisa contar" mas que, num momento seguinte, vendo-o sofrer devido à não aceitação social por parte do namorado, diz que o entende e aceitará qualquer um que ele venha a amar e que seja digno dele; o rapaz adulto bem sucedido que supre o caráter supostamente "afeminado" do seu esposo procurando aventuras em um clube de swing e, finalmente, o senhor idoso que jamais se assumiu socialmente, casado com mulher, com filhos e netos, que procura sexo pago na figura de um garoto de programa, em uma sauna.
A segunda constação é que o relativismo ainda não chegou ao México ou pelo menos não contaminou este cineasta. Mesmo o menino que deseja explorar/conhecer o corpo do primo sabe que é gay, que é homossexual, o que fica claro na sua confissão ao padre. O que existe no filme é a demonstração da homofobia introjetada, na figura de um rapaz que não quer se expor e não quer assumir o seu relacionamento homoafetivo, o homem casado que não lida bem com os traços "afeminados" do cônjuge e o velho que se casou com uma mulher, teve filhos e netos. Ninguém hiper relativiza a sua orientação sexual, como vemos acontecer por aqui.
Em momento algum caricato, o filme mostra pessoas reais, num mundo real, em meio aos dramas reais do cotidiano sendo que a perspectiva, em todos os casos, é extremamente humanizante. Percebemos a naturalização da homossexualidade, mostrando-nos como seres humanos normais, com nossos vícios e virtudes, sucessos e fracassos, alegrias e tristezas.