Casa Grande é um filme que começa e se desenvolve despretensiosamente, parecendo querer retratar a partir do ponto de vista do jovem Jean (Thales Cavalcanti), as agruras de um rapaz em sua jornada de amadurecimento, até que esse mote se torna apenas o pano de fundo para a discussão de fatos que são alardeados como "grandes mudanças" ocorridas no Brasil: o aumento da formalização do trabalho, a lei de cotas, a emergência de uma nova classe média e do novo empreendedorismo bancado pelo Estado, sintetizado no império X, de Eike Batista. No entanto, se há virtudes nas tais políticas afirmativas para os mais pobres, isso não parece tão evidente no núcleo familiar que representa a classe mais abastada, representada por Sônia (Susana Pires) e Hugo (Marcelo Novaes), os pais de Jean, um casal que integra uma família nuclear patriarcal cuja decadência é posta em diálogo com a ascensão do modelo de "família comunitária", representada pelos seus próprios serviçais, com larga vantagem para esse novo modelo de família-comunidade. Só isso já torna o filme relevante, ao demonstrar o liquefazimento da família nuclear, seja patriarcal ou matriarcal, e de antigos dogmas (educação de qualidade = sucesso profissional, família rica = estabilidade), e a ascensão da família expandida semelhante às comunidades populares, mas não fica claro como se sustentará esse novo modelo dentro das novas regras líquidas do novo mercado, sintetizado no aventureirismo do império X, ficando claro que todos os empregados, antes vinculados à Casa Grande perdem sua fonte de renda. Não falta a defesa panfletária das "políticas afirmativas" de caráter assistencialista e populista, dos governos Lula-Dilma, defendidas pela personagem Luiza (Bruna Amaya), as quais são debatidas de forma confusa e desajeitada pelos personagens que integram a família de Jean e a escola, o elitizado Colégio São Bento. Fellipe Barbosa, em sua sensibilidade, menos de cineasta ficcional e mais de documentarista, associa o protagonista, pelo menos sincronicamente, em seu filme, a um destino em que as tensões sociais são sublimadas pelo afeto dos serviçais aos patrões. Será assim na vida Real?