A figura da Casa Grande tem uma importância muito grande na compreensão de alguns elementos que fazem parte da construção da sociedade brasileira. Basta lembrar, por exemplo, da existência de um livro como "Casa-Grande & Senzala", escrito pelo sociólogo Gilberto Freyre. Nesta obra, a Casa Grande é uma representação do modo de organização social e política do Brasil, calcado no patriarcalismo e na figura do pai como proprietário de tudo que se encontrasse naquela propriedade.
De uma certa maneira, "Casa Grande", filme dirigido e co-escrito por Fellipe Barbosa, dialoga com essas simbologias. No longa, acompanhamos o adolescente Jean (Thales Cavalcanti), que, aos 17 anos, está vivendo uma fase muito importante para qualquer adolescente e que envolve a descoberta de um primeiro amor, de sua própria sexualidade e também se vê diante de uma importante decisão: qual será a sua escolha profissional?
Todo esse processo se passa também em meio a um outro, que é vivenciado pelos seus pais (Marcello Novaes e Suzana Pires), que estão enfrentando uma crise financeira severa, que ameaça o padrão de vida de alto luxo que a família possui e que é escondida dos dois filhos do casal.
Assim, talvez, o maior conflito vivido por Jean no decorrer de "Casa Grande" é a tentativa dele fugir de tudo aquilo que sua família representa e como ele pode se portar, como ser humano, diante de suas convicções e dos valores em que ele acredita. Ao mostrar a luta de Jean contra esses estereótipos e pensamentos, o filme toca em temas muito interessantes, como as diferenças sociais, a instituição de cotas raciais e a hipocrisia que reina, algumas vezes, na relação patrão x empregado.
Estes são os pontos mais positivos de um filme que tem um desenvolvimento interessante, porém um fim um tanto abrupto - mas que não deixa de ser representativo diante de tudo o que assistimos, por, talvez, representar um momento definitivo de ruptura (ou de libertação) entre Jean e tudo aquilo que o que lhe cerca representa.