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    D.U.F.F. - Você Conhece, Tem Ou É
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    D.U.F.F. - Você Conhece, Tem Ou É

    Rindo de si mesmo

    por Bruno Carmelo

    O imaginário do sistema de ensino norte-americano está marcado por uma estrutura rígida e perversa de panelinhas, grupos e hierarquias de jovens. Centenas de comédias e dramas americanos apresentam os grupos dos atletas, das garotas belas e populares, dos nerds, dos góticos... D.U.F.F. começa dizendo que esta estrutura sofreu alterações, já que “patricinhas tomam antidepressivos e nerds governam o país”. Neste contexto de mistura de grupos - sem a implosão dos mesmos -, nasce uma nova casta: o D.U.F.F., ou “amigo designado gordo e feio”, de acordo com a sigla em inglês. Ele ajuda os amigo(a)s mais bonito(a)s a encontrar namorado(a)s, e valoriza a beleza alheia pela exposição de sua feiura.

    Este filme tenta fazer com o DUFF o que as comédias dos anos 1980 e 1990 fizeram com os nerds: valorizá-los, colocá-los como protagonistas, com oportunidade de inserção social e autoaceitação. A protagonista da trama é Bianca (Mae Whitman), a clássica DUFF. Quando descobre que faz parte deste grupo, decide mudar e se tornar “aquela que os garotos querem namorar”. A sequência poderia enveredar pelo machismo típico de filmes como Ela é Demais, sugerindo que o caminho para a felicidade feminina passa pela maquiagem, salto alto e poder de sedução. Essa história, felizmente, toma rumos mais ambíguos, tentando fazer com que Bianca melhore seu lado introspectivo, ao mesmo tempo em que se torna uma DUFF orgulhosa de si mesma.

    Assim, encontram-se nesse projeto pequenas subversões interessantes de sublinhar, como a humanização dos atletas, a valorização de uma estética alternativa aos padrões massivos da mídia, e a possibilidade de navegar entre rótulos distintos nas escolas. As hierarquias são evidenciadas e parodiadas, mas nunca subvertidas por completo: à medida que o roteiro se desenvolve, o espectador encontra todos os clichês esperados da comédia romântica. De certo modo, D.U.F.F. parodia os estereótipos para em seguida aderir aos mesmos códigos com um sorriso malicioso nos lábios.

    Esse discurso poderia ser monótono ou moralista, mas o diretor Ari Sandel embala seu filme em imagens ágeis, picotadas e multicoloridas, como um longo videoclipe da MTV. Existem telas dentro de telas, tweets e mensagens escritas nas imagens, além de delírios cartunescos dos personagens. Todo o arsenal tecnológico está presente: cita-se à exaustão Facebook, Twitter, What’s App, Tinder e todas as outras redes sociais disponíveis aos jovens e aos adultos de hoje. Mais uma vez, critica-se a tecnologia sem romper com ela. O filme é egocêntrico, mas dotado de senso de autoparódia. Seguindo as regras da pós-modernidade, ele prega que nada nem ninguém seja levado a sério. Tudo pode ser photoshopado, vazado, transformado em meme. Uma imagem vale mais que mil pessoas.

    D.U.F.F. é ajudado pelas boas atuações do elenco. Mae Whitman faz uma garota deslocada, mas menos ingênua e insegura do que se esperaria da protagonista. Robbie Amell ultrapassa a simples imagem do homem musculoso, transmitindo indecisão e delicadeza nos momentos mais importantes. Até o hilário Ken Jeong, conhecido pelos exageros, compõe um personagem mais contido e realista. Allison Janney funciona como uma coadjuvante de luxo, ilustrando as neuroses e inseguranças que também atingem a fase adulta. Já Bella Thorne tem se especializado no papel da bela megera – algo que reproduz nesta trama com uma facilidade um pouco preguiçosa.

    Por fim, D.U.F.F. constitui uma experiência um pouco acima da média no que diz respeito à representação do famoso cenário escolar americano, com seus armários metálicos, seus bailes de formatura e suas práticas diárias de (cyber)bullying. O discurso é saudavelmente progressista, embora seja explicado de maneira óbvia e redundante pela narração. Sobram as boas intenções e uma interessante percepção de si próprio, mas falta ambição social e cinematográfica à crítica em meio-tom.

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