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    Meninos de Kichute
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Meninos de Kichute

    O gol é das crianças

    por Renato Hermsdorff

    Meninos de Kichute carece de um certo apuro técnico, compensado, em parte, pela veracidade das cenas que reúnem os tais meninos. O filme de Luca Amberg é uma produção de 2009 – que chegou a ser escolhida pelo público como o melhor longa-metragem brasileiro na 34ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (estamos indo para a 38ª). Incongruências do cinema brasileiro.

    Baseado no livro homônimo de Márcio Américo, também corroteirista, Meninos de Kichute (o tênis sensação entre os garotos que cresceram entre o fim dos anos 1960/ início dos 1980) é focado na figura de Beto (Lucas Alexandre, escolhido entre cerca de 700 crianças), um garoto de 12 anos, de família simples, que resolve ser goleiro. A história se passa nos anos 1970, em um bairro pobre. Lucas é um garoto comum, o filho do meio, que vê no autoritarismo do pai (Werner Schünemann) o maior obstáculo para a realização de seu sonho. Religioso, o patriarca considera que competição é pecado.

    A julgar pela reconstrução histórica, o filme se posiciona muito bem. O figurino é impecável, marcado, principalmente, pelas peças justas características da década; o trabalho da direção de arte é perceptível, sobretudo, nas Brasílias, Kombis e Fuscas; e a trilha sonora, que inclui Secos e Molhados ("Que Fim Levaram todas as Flores"), Jorge Bem ("Filho Maravilha") e Sergio Sampaio ("Eu Quero Botar meu Bloco na Rua") ajudam a embarcar no clima.

    Mas não são suficientes. Há um quê de artificialidade que permeia o filme. Partindo de uma história quase banal, a evolução do percurso de Beto é convincente. Mas as tramas paralelas que alimentam esse arco central poderiam ser mais bem exploradas, o que resulta na perda do potencial impacto que teria, por exemplo, a revelação das contradições do pai (que, claro, não é santo). Ele, assim, acaba retratado como um personagem duro, bidimensional. Coadjuvantes robóticos também não ajudam.

    Mas o elenco central convence, de uma maneira geral, formado por Vivianne Pasmanter (a melhor, no tom certo), como a mãe; Werner Schünemann, o pai; Arlete Salles, como a vizinha boa praça, que ajuda Beto. E Lucas Alexandre se destaca. Principalmente nas cenas com o restante do elenco infantil, com mais de 20 crianças, ao todo, nas cenas na escola ou no campinho.

    E esse é o grande mérito do filme. Na disputa do bafo, na supervalorização da pornografia, na provocação da pelada, no bullying, de uma maneira geral, os Meninos de Kichute cativam. Com bons diálogos – e pode chamar de diálogo a zoação de moleques de 12 anos? –, o nível de provocação chega a ser ousado, frente à patrulha do politicamente correto dos dias de hoje. Mas e não era assim? Com isso, o filme capta com precisão o humor “quinta-série” característico da idade. Neste ponto, um belo gol.

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