Principalmente nas décadas de 80 e 90 era bastante comum vermos na televisão filmes "inocentes", mas que de certa forma carregavam uma mensagem bem mais profunda como amizade, bondade, espírito de equipe e etc. Mas, esse tipo de filme foi perdendo a importância com o passar do tempo, dando espaço para filmes de super heróis ou do universo adolescente colegial (os famosos "High School" films), como se fossem uma forma mais moderna de dialogar com as crianças de hoje em dia. Entretanto, depois de assistir a ‘Little Boy’, produção meio mexicana, meio norte-americana, aquele sentimento agradável de bem-estar e até mesmo fé na humanidade consegue ser restaurado com sucesso no espectador (que não tenha aquele "coração de pedra" é claro).
A história se passa às vésperas da entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial. A família de um garotinho de oito anos chamado Pepper Busbee (Jakob Salvati) está prestes a sofrer uma radical mudança quando o filho mais velho London (David Henrie, de ‘Os Feiticeiros de Weverly Place’) é impedido de representar a família na guerra por conta de um pé chato, e seu pai James (Michael Rapaport) precisa ir no seu lugar, deixando os dois garotos tocando as tarefas de casa com a mãe Emma (Emily Watson) até seu retorno ao final da guerra. Mas é o jovem Little Boy quem mais sente a falta do pai e amigão, fazendo o possível na sua comunidade para trazê-lo de volta.
Dirigido pelo mexicano Alejandro Monteverde (que também é produtor do filme) Little Boy é um drama de época de baixo orçamento - que terá aqui no Brasil lançamento exclusivo pela rede de cinemas Cinépolis - mas que conta com rostos conhecidos no elenco, como além dos já citados, Kevin James, Tom Wilkinson e Cary-Hiroyuki Tagawa (o Shang Tsung de Mortal Kombat, os mais velhos devem se lembrar). O destaque fica mesmo por conta do garotinho Jakob, que consegue passar muito carisma e segura bem a dimensão que seu papel de destaque no filme requer.
Tecnicamente, há alguns erros até grosseiros, como de continuidade (em uma cena o garoto oferece um refrigerante para outro personagem e fica ao lado de sua bicicleta, no corte seguinte a bicicleta não está mais lá e no próximo, novamente ela está ao lado do garoto). Também algumas escolhas tanto da direção como do roteiro utilizam um pouco além da conta a "licença poética" em alguns momentos, fazendo com que o espectador releve e acredite em algumas coisas, mas como o tom do filme é todo ingênuo e agradável, essas questões não chegam impreterivelmente a atrapalhar e comprometer o saldo final.
Falando em roteiro, a lista de coisas a fazer que Little Boy recebe foi uma grande sacada do filme para estabelecer de forma clara uma maneira do protagonista atingir seu objetivo. Mesmo totalmente diferente pela época em que passa e por diferenças estéticas e históricas, o clima do filme remete a outras belas histórias como ‘A Corrente do Bem (2000)’, ‘O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001)’, entre outros que propaguem essa mensagem de ajudar a alguém desconhecido. Há também uma cena muito bonita (cinematograficamente) que lembra vagamente o clássico ‘A Lista de Schindler’, pela forma como foi concebida. Juntamente com o design de produção, que por conta do baixo orçamento não tem nada que salte aos olhos e mereça um grande elogio, todo o universo diegético do filme se faz crível, ajudando o envolvimento do espectador com a história.
Como ressalva, o filme peca um pouco, pelo excesso, por ter uma ou duas reviravoltas além do necessário e sendo um pouco mais crítico não oferece uma solução mais realística para o problema levantado. Mas toca em vários temas interessantes e na sua essência é uma história de superação, que tem uma bonita mensagem de amor ao próximo e de nunca desanimar mesmo quando algo parece impossível de alcançar, o que nos faz refletir sobre uma triste questão que ainda presenciamos hoje em dia, onde noticiário após noticiário vemos cada vez mais a falta de amor e a intolerância da humanidade com o próximo, ou aquele de cultura diferente da que acreditamos.
Sendo assim, Little Boy é um filme recomendado. Tem muitos mais acertos do que erros e o principal, consegue passar a mensagem que desejava. O carisma do pequeno protagonista que foi muito bem explorado pela lente do diretor é contagiante e o filme chega até a emocionar aqueles mais sensíveis. Quem procura uma história que inspire fé na humanidade nesses dias tão revoltados e inquietos tem essa boa opção, na qual pode (e deve) levar as crianças, para que elas tenham uma folga da "violência" - por mais que não seja gráfica - dos super-heróis e derivados, como filmes distópicos e zumbis, que ocupam em torno de noventa por cento dos filmes que a garotada quer ver hoje em dia no cinema. Um resultado surpreendente - que não chega a ser nenhuma obra-prima - mas que transborda inspiração e motivação para continuar acreditando que dias melhores virão.