Apenas mais um roubo a banco em Los Angeles
por Taiani MendesComo acreditar numa história que começa contando uma mentira? Talvez desconhecendo que as informações não condizem com a verdade, mas se você está lendo esta crítica antes de ver Covil de Ladrões isso já não será possível, pois está dado aqui o aviso: os impressionantes números que apresentam Los Angeles como a capital dos assaltos a banco são bem exagerados. “Por que usá-los então, senhor diretor Christian Gudegast?” Arrisco uma tentativa de cópia do que funcionou em Atração Perigosa, mas por fim permanece igualmente sem resposta o questionamento: “Por que um filme tão genérico?”.
São exageradas duas horas e vinte minutos para três coisas: dois intensos tiroteios com muitos mortos e feridos e um milionário e elaborado roubo, tentado por dezenas de pessoas e nunca executado com precisão. A abertura impressiona pela quantidade de balas voando e som “gritando”, mas daí até o próximo momento empolgante são vários minutos de besteira. Todos os lugares e personagens são identificados pelo nome no canto da tela como se isso tivesse alguma utilidade e há um irrelevante esboço de construção de personagem, com uma cena ou outra dos principais lidando com questões pessoais, vivendo a vida “normal”, afirmando seus laços.
Gerard Butler, bastante confortável como especialista no gênero, estrela na pele do xerife Nick. Ele é marrento, violento, inteligente, repleto de inimigos e tem métodos bem próprios de investigar e pressionar os criminosos. Seu arqui-inimigo é Ray Merrimen (Pablo Schreiber, o melhor da família), líder da gangue que matou policiais para roubar um carro-forte vazio. Inicialmente promissora, calcada na segurança dos intérpretes, a rixa ganha ares bem estranhos no decorrer do filme, culminando numa íntima tensão domiciliar que beira o risível.
Roteirista de Invasão a Londres, Gudegast estreia como diretor mostrando-se capaz de comandar sequências de ação ou gerar tensão e imprestável para o resto – que aqui nem precisaria existir, mas ele insiste em acompanhar a crise conjugal do policial destemperado, suficientemente caracterizado em seu trabalho. Chega a ser incrível um longa-metragem de mais de duas horas não dedicar tempo bastante para o aparo de inúmeras pontas soltas relacionadas à reviravolta final. Importante mesmo é apontar caminhos para a sequência, confirmada em janeiro.
A gangue da lei e a gangue dos assaltantes são compostas por sólido elenco masculino, cujo terceiro de maior importância é O'Shea Jackson Jr., revelado em Straight Outta Compton. Há ainda uma nova investida de Curtis '50 Cent' Jackson nas artes dramáticas. Breves falas lentas, voz baixa e olhar doce não convencem e o músico continua mostrando-se bastante limitado como ator.
São tantos os filmes de "roubo complexo a banco" que defendo a avaliação dos mesmos a partir do grau de dificuldade e ineditismo da ação engendrada. O plano de Covil de Ladrões é inegavelmente bem complicado e os procedimentos dos bandidos não lembram de imediato nenhum outro longa-metragem. Outro prisma de avaliação positivo é a análise da filmografia de Gerard Butler. Comparado a Tempestade: Planeta em Fúria, Deuses do Egito ou Um Homem de Família, Den of Thieves pode até ser considerado bom. Ruim como os citados não é, só falta originalidade e sobra duração não investida em tiroteios barulhentos.