Vislumbres de um possível bom filme
por Francisco RussoA sequência de abertura de O Sequestro diz muito sobre o filme que está por vir: a coletânea de imagens de época envolvendo mãe e filho, alongada por muitos minutos, reitera o quão forte é o elo entre eles. Logo em seguida, o espectador é apresentado ao momento atual desta mulher, que aguenta desaforos no mal remunerado trabalho como garçonete para que possa manter a guarda do filhote em meio a um divórcio litigioso. Todo este preâmbulo tem um único objetivo: não deixar qualquer dúvida de que sim, ela ama muito seu filho e fará o impossível para protegê-lo.
Tamanho didatismo é uma constante em O Sequestro, e também um de seus maiores problemas devido ao cansaço intrínseco que traz consigo. O diretor Luis Prieto a todo instante precisa ressaltar situações afirmativas em torno da personagem de Halle Berry, de forma a justificar (?!?) os atos de uma mãe determinada em resgatar o próprio filho. Não precisava. Apesar disto, ainda assim é possível vislumbrar um bom filme nas entrelinhas. Especialmente, quando O Sequestro escancara ecos de Encurralado, o filme que revelou um certo Steven Spielberg lá no início dos anos 1970.
Quando o jogo de gato e rato enfim tem início, em uma perseguição automobilística estrada afora, O Sequestro não só assume de vez seu lado thriller a partir de uma câmera nervosa como, também, lida com uma certa habilidade em relação ao desconhecido. A figura do estranho que carrega a criança sem motivo aparente é bem construída pela narrativa, especialmente quando vítima e algoz se enfrentam frontalmente. O silêncio presente amplifica a tensão, entregando também um vilão com potencial que, infelizmente, é mal explorado mais adiante.
No fim das contas são tais vislumbres de um possível bom filme, presentes especialmente no segundo ato, que conseguem prender a atenção, por mais que surjam apenas ocasionalmente. Prieto até consegue criar (poucos) momentos de tensão, especialmente quando um policial se envolve na perseguição, mas são tantas as manipulações e falhas técnicas que tais boas ideias acabam minimizadas. Entre elas está a conveniência do roteiro, que sem um bom motivo não só isola sua personagem principal como joga no lixo qualquer resquício de lógica no desfecho da perseguição. Entretanto, nada supera a inacreditavelmente mal feita sequência da ré em uma auto-estrada, exibida a partir de uma trucagem sonora em uma montagem tosca.
Com um fiapo de roteiro que se sustenta muito no exagero em torno de sua personagem principal, O Sequestro traz como ponto positivo apenas a dinâmica existente entre vítima e algozes, onde os momentos de espera de lado a lado são interessantes. Com pouquíssimos personagens, cabe a Halle Berry segurar tamanha bagunça tendo como trunfo apenas seu carisma.