Acabo de assistir ao documentário brasileiro "Uma Passagem Para Mário" e, entre uma lágrima e outra, escrevo esse pequeno texto sobre um filme que, sendo uma homenagem de seu diretor (Eric Lawrence) para seu falecido amigo Mario Duques, acaba transcendendo para um retrato de uma bela amizade entre dois sujeitos e que, em se tratando de Lawrence, teve que superar a dor da perda e partiu rumo a uma silenciosa viagem em busca da mais linda das homenagens.
Mario Duques é um sujeito ativo, aventureiro e de bem com a vida que, estando em avançado estado de metástase, proveniente de um câncer no fígado, decide filmar seus últimos dias e, junto com seu amigo Eric Lawrence, decidem rumar para uma última viagem rumo ao Deserto do Atacama, numa espécie de "rito de passagem". Entretanto, Mário morre dias antes da viagem, obrigando Eric a partir sozinho, numa espécie de última viagem em homenagem ao amigo.
Mesclando imagens de arquivo do próprio Mário com imagens feita pelo próprio Lawrence em viagem, o filme "Uma Passagem Para Mário" faz questão de trazer sempre em primeiro plano a figura alegre de seu protagonista-homenageado. Contrapõem-se a isso, a silhueta fugidia, distante de Eric, que em pouquíssimos instantes surge à frente da câmera. Repleta de imagens simbólicas, o filme não se apressa em avançar e por vezes atravessa a tela num ritmo lento, silencioso, montado em solene tom de despedida.
Encontrando no caminho figuras fascinantes como os três amigos bolivianos, que em frente às câmeras declaram sua amizade entre si, ou mesmo o sujeito que diz a Eric: "Se teu amigo também queria fazer isso, eu acho que é necessário saber escutar o sussurro espiritual", o filme por vezes me lembrou a máxima de Christopher McCandless, do fabuloso "Na Natureza Selvagem": "a felicidade só vale a pena se for compartilhada", pois, é inegável que, aceitando seguir em frente com a viagem, Eric Lawrence deparou-se com sua própria jornada de auto-descoberta e de irrefutável comprometimento com a memória do amigo.
Um comprometimento que, no final, emociona a todos nós. Guardando para o fim os instantes de maior simbolismo e de incontestável impacto emocional, somos contemplados com sequências magníficas em que, por exemplo, vemos Mario Duques em seu último registro, levantando as mãos pro céu enquanto sobre uma escada, intercalado com um plano magnífico do amigo Eric Lawrence, caminhando numa planície de sal enquanto sua imagem refletida na planície mistura-se a um majestoso reflexo de nuvens e montanhas.
E por último temos a mais linda das homenagens: Eric Lawrence projetando nas rochas e montanhas do Atacama, todas as imagens de Mario Duques, dando ao amigo o fim que não teve tempo de realizar, o rito de passagem que, enfim, concretizara-se sob a lente e atenção de Lawrence. E é maravilhosamente tocante vê-lo simplesmente "voar" sob aquela árida paisagem que, por um instante, transformara-se num dos mais belos cenários que alguém poderia, enfim, descansar e "alçar-se" para a eternidade.
"Passagem Para Mário" é obrigatório para aqueles que, assim como eu, gostam de manter seus amigos sempre por perto.
Obs.: Postado originalmente em 09 de Novembro de 2014