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    Beijei uma Garota
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Beijei uma Garota

    Uma questão de infidelidade

    por Francisco Russo

    Em 2001, o independente norte-americano Beijando Jessica Stein chamou a atenção por trazer um relacionamento entre duas mulheres sob o formato de comédia romântica. Mais do que propriamente abordar o tema, era uma tentativa de levar questões do universo gay ao grande público, retirando-os de um público restrito (até então). Apesar do desfecho moralista, era um avanço bem-humorado nesta eterna batalha pelo fim do preconceito. Quase uma década e meia depois, o cinema francês traz uma espécie de “versão masculina” de Beijando Jessica Stein, ao menos na trama principal.

    A história gira em torno de Jérémie (Pio Marmai, convincente), homossexual convicto que, um belo dia, acorda ao lado de uma jovem e sedutora sueca após uma noite de bebedeira. Surpreso pela noite de sexo, sua primeira vez com uma mulher, ele entra em pânico. Sai de fininho e volta para casa, onde encontra o namorado de uma década Antoine (Lannick Gautry), com quem está prestes a se casar. Estão estabelecidos os dois temas centrais do longa-metragem: a infidelidade e a atração pelo diferente. É a partir deles que toda a história se desenvolverá.

    Por um lado, Beijei uma Garota chama a atenção pelo lado dos questionamentos de Jérémie em sua tentativa desesperada em compreender o que está acontecendo. Não se trata de uma súbita atração por mulheres, já que ele apenas tem interesse naquela com quem passou a noite – coisas que só o coração explica. Tal situação até é bem conduzida pelo lado afetivo, com a aproximação cada vez maior entre Jérémie e Adna (Adrianna Gradziel) e os problemas inevitáveis do triângulo amoroso, em boa parte auxiliada pela ingenuidade e o lado meio trapalhão do personagem principal. O problema é o que cerca os três personagens. Especialmente Charles (Franck Gastambide), o melhor amigo e sócio de Jérémie.

    É através de Charles que os diretores Noémie Saglio e Maxime Govare despejam uma dose maciça de piadas preconceituosas em relação ao universo gay, tentando provocar o riso fácil a partir da incompreensão sobre a diversidade. Para “justificar” tais piadas, Charles é construído como o típico galinha egocêntrico, que se gaba das conquistas amorosas e de tratar as mulheres como meras serviçais ao seu prazer. Diante disto, o filme entrega situações tolas como o “definitivo” teste de heterossexualidade, com direito a visita a um bar repleto de strippers, e várias provocações do amigo sobre o momento de vida de Jérémie. Tais situações cansam, ainda mais devido à presença de bobeiras como a cena de nudez de Charlie e o próprio desfecho.

    No fim das contas, Beijei uma Garota é um filme interessante pela inversão apresentada pelo roteiro ao colocar um homossexual convicto tentado por uma mulher e as implicações existenciais, amorosas e até sociais que isto representa. Por outro lado, derrapa feio ao investir tão forte no estereótipo e no preconceito como meio de fazer piada. Investir mais no lado comédia romântica seria bem mais interessante, até porque a história apresenta potencial neste sentido.

    Filme visto no Festival Varilux de Cinema Francês, em junho de 2015.

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