Mesmo que inexistente, o único defeito de Leviatã provavelmente seria sua lentidão. Mas como esta história, que progride suntuosamente ao ser contada por Zvyagintsev, consegue ser bem maior do que os próprios objetivos impostos pela suposta lentidão que embaraçou meus sentidos, é claro, e que igualmente desfrui de alguns elementos bem montados, este pequeno "problema" foi ficando invisível ao passar do longo tempo da exibição do longa.
Leviatã é bem simplista. Deixa tudo bem resumido e descomplicado para a fácil compreensão do público, algo que dificilmente vem ser interrompido, mas que com uma magnitude, torna-se eficiente para a história. Sinceramente, há momentos no filme que me deixaram confuso, mas foi bem passageiro. Em algumas partes, o filme é bem infiel á sua intenção, mas garanto que isso possivelmente não causará nenhum transtorno. De fato, o importante aqui não é nem mesmo a compreensão, pois se fosse, o diretor com certeza usaria mais técnicas para aperfeiçoar a película. O importante aqui é a analise delicada dos conflitos morais que surgem com uma força impiedosa, e que também lideram nossa atenção. É recomendável também não criar muitas falsas expectativas quanto à história, pois ela intencionalmente engana, e também não aguardar sentimentalismo. Só para destruir esse clima de previsões errôneas sobre o filme: seu final não é lá feliz. Mas é bem particular do longa: a transformação. Sem esse "jogo", acredito que Leviatã não faria nenhum sentido. Ou até mesmo sem a desconstrutora tragédia da qual os personagens participam.
Andrey Zvyagintsev revela um dos melhores filmes do cinema russo atual, que recentemente, atravessou uma fase bem complicada. Zvyagintsev também revela seus truques para a simplicidade desta obra: o abuso de diálogos no roteiro, de sua co-autoria; a pouca movimentação da câmera nas cenas; paradoxos nas tramas, algo que embora pareça clichê, aqui soa positivamente inovativo. É claro, tudo isso com a ajuda (também destacando) da fotografia maravilhosa. Leviatã não é tão imensamente colorido, mas há uma combinação perfeita das cores, algo que realça mais sua estrutura dramática intensa. É algo tão natural, que acaba por conquistar nossos olhos, que majestosamente dá uma beleza ao filme.
Leviatã tem um elenco pequeno, mas talentoso. Algo que me atraiu profundamente, principalmente por serem atores desconhecidos das telonas. Bem, mesmo que esteja elogiando potencialmente Leviatã, isso não precisamente signifique que compartilhei sua vitória (apesar de merecida) no Globo de Ouro em Melhor Filme Estrangeiro contra Ida (meu favorito). Falando da corrida do Oscar, Leviatã pode ser considerado um vencedor, mas ainda que tardia, a vitória de Ida continua sendo minha previsão, por mais que arriscada. Mas é um trabalho glorioso, e que, vencendo ou não, é merecedor. Andrey mostra seu controle sob a película, que para nós, parece tão incerta, mas que ao seu evoluir, se concretiza de uma forma inquestionável. Inevitavelmente inesquecível, Leviatã é uma obra-prima de primeira, e certamente recomendável aos apreciadores de um cinema mais refinado.