Existe uma certa sensação de incômodo que sentimos ao assistir a Paterson, filme dirigido e escrito por Jim Jarmusch. Na medida em que a rotina de Paterson (Adam Driver, numa ótima atuação), um motorista de ônibus que vive numa cidade que compartilha com ele o mesmo nome (e que fica localizada no Estado de Nova Jersey), nos é revelada; ficamos esperando pelo momento em que algo vai abalar as estruturas nas quais a personagem se apoia, uma vez que nada pode permanecer tão tranquilo por tanto tempo.
A verdade é que Paterson tem uma ótima vida. Sua profissão não permite que ele viva uma rotina chata, uma vez que cada novo passageiro que embarca no ônibus que ele dirige possui uma história de vida diferente. E ele divide, não só a casa, como também os projetos de vida, com a companheira Laura (Golshifteh Farahani), que o ama e o incentiva a desenvolver os dons poéticos que ele possui – em troca, Paterson, que também a ama muito, a incentiva em tudo aquilo que ela quer fazer (seja aprender a tocar violão ou a investir na venda de cupcakes).
Por isso mesmo, voltando à sensação de incômodo que descrevemos no início da nossa resenha crítica, o grande propósito de Paterson é nos mostrar justamente que não existe nada a temer. Paterson está extremamente satisfeito e feliz com a vida que leva. Ele não se sente nem um pouco entediado com a possibilidade de repetir suas atividades, dia após dia. Isso o traz, não só um certo conforto, como também a segurança de que ele está no caminho certo.
Neste sentido, a grande beleza por trás de Paterson é nos deixar com a maior lição que a personagem do filme nos apresenta: a de tentar olhar com um olhar poético tudo aquilo que está ao nosso redor, quer seja uma caixa de fósforos, quer seja o verso de uma canção, quer seja a pessoa amada, quer seja uma criança que espera sentada pela mãe, quer seja a conversa paralela que acontece dentro de um ônibus. Ou seja, o que o longa quer nos mostrar é que a grande beleza da vida está justamente inserida dentro dos contextos mais simples.