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    Não se Preocupe
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Não se Preocupe

    Jogo de intrigas

    por Bruno Carmelo

    A trama é conhecida: um grupo de jovens parte para uma cabana isolada no meio da floresta, e a convivência forçada acaba gerando comportamentos atípicos e acontecimentos inesperados. Poderia ser a premissa de um filme de terror, mas neste caso o mote é levado a um drama, com eventuais toques de suspense. Como em uma espécie de Big Brother, o diretor cria obstáculos para que os cinco personagens acabem brigando, se divertindo, se amando etc.

    Se a originalidade não é o ponto alto da história, pelo menos as opções estéticas de Jeshua Dreyfus chamam a atenção. O jovem cineasta suíço acompanha estes jovens com uma câmera livre, participativa, que faz do espectador um personagem a mais, inserido no meio da roda de risos, gritos e lágrimas. Apoiando-se nas imagens em grande angular, Dreyfus reforça a importância da natureza ao redor, sugerindo que o contato com as árvores e colinas é determinante para os abalos psicológicos que estão por vir.

    As primeiras revelações são interessantes. Insinua-se a atração de um por outro, um pequeno remorso a respeito de acontecimentos passados. O roteiro planta calmamente elementos e objetos que poderiam representar perigo: arco e flecha manuseados por pessoas pouco experientes, o teleférico cujas portas podem se abrir em pleno voo. O tabuleiro está montado, resta apenas deslocar as peças do jogo.

    No início, as insinuações levam a belas imagens (como David, à distância, carregando um estranho saco pelo chão, que aparenta ser um cadáver) e um desenvolvimento psicológico plausível dos cinco amigos. A dinâmica é ditada por Mara, uma espécie de neohippie que sempre propõe “círculos da verdade”, nos quais cada um deve admitir seus pensamentos e sentimentos mais profundos. Aí o filme começa a apresentar seus problemas.

    Pode-se acreditar que os personagens participem das brincadeiras de Mara, por conhecerem a garota e confiarem nela, mas logo as reviravoltas propostas pelo roteiro, permeadas por sucessivos círculos da verdade, tornam-se inverossímeis, e mesmo ridículas. Como em uma sitcom, o roteiro começa a casar todos os personagens entre si, fazendo com que todos se beijem, transem uns com os outros e se separem do dia para a noite. A maneira como esses conflitos são solucionados faz Não Se Preocupe flertar com a comédia involuntária.

    Mesmo assim, resta da obra um senso interessante de direção de atores, uma exploração fluida e realista dos espaços. O diretor tem talento para criar climas e prender a atenção do espectador. É uma pena, entretanto, que opte por desfechos tão extremos e explícitos. Tivesse um roteiro mais sutil em mãos, poderia ter feito uma pequena obra memorável. 

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