O cinema está numa fase deplorável. Primeiro, a reencarnação de Jurassic Park ("Jurassic World"), com nova roupagem não tão nova, roteiro que exagera no absurdo e efeitos que pouco inovam. Depois, a exumação do T-800 em "O Exterminador do Futuro: Gênesis", que peca por contradizer sua própria história e aposta demais em um só ator que não tem mais condição de carregar a obra nas costas. Não porque Schwarzenegger esteja velho, mas porque não conseguiu inovar - até porque não há o que inovar nesse universo. Tentaram, falharam. Não são filmes ruins, mas a nostalgia (que existe) dá lugar ao "ok".
E agora veio "Cidades de papel", baseado no livro escrito por John Green, responsável por "A culpa é das estrelas", que também virou filme. Filme não, um grande e merecido sucesso. "Cidades de papel", porém, é muito inferior. É bem verdade que não é fácil comparar um romance puro e dramático com uma aventura cômica levemente romântica. Mas o autor é o mesmo, bem como o público-alvo.
"A culpa é das estrelas" é charmoso, sensível, cativante. É maravilhoso. Tem um casal protagonista encantador, um roteiro que foge um pouco do tradicional (ao contrário do sucessor) - porém, com moderação - e coadjuvantes razoáveis que sabem que são coadjuvantes (Nat Wolff, inclusive).
Diferente de "Paper Towns", em que os coadjuvantes se sobressaem. Na verdade, o elenco de apoio é infinitamente superior ao casal protagonista, Nat Wolff e Cara Delevingne. Wolff parece promissor, mas teve o azar de dar vida a uma personagem (o protagonista Quentin) consistente, porém pouco carismático (ao contrário do coadjuvante Ben, em especial). Já Delevingne mostrou ter sido a MELHOR ALUNA DA HISTÓRIA na Escola de Teatro Kristen Stewart. Não sei se como modelo e cantora ela é boa profissional, mas não pode se considerar atriz. Sua inexpressividade é magicamente assustadora. Cara e Nat estão muito aquém de Shailene e Ansel (de "A culpa..."), tanto na atuação quanto no carisma.
Ou seja, a premissa romântica do primeiro já não existe no segundo. Aliás, o romance de "Cidades de papel" é exageradamente raso - todavia, mais próximo da realidade nesse quesito, é verdade. Há um acréscimo no lado cômico, e o grau de aventura é infinitamente superior. Mas não chega a ser uma aventura empolgante - além de socialmente não recomendado.
Em síntese, "Cidades de papel" não é ruim, só não tem a habilidade ímpar de encantar como o anterior do mesmo autor. A começar pelo casal (?) protagonista, a continuar pelo roteiro (um pouco tradicional, bastante regular e previsível até o meio e sem nenhuma dose de sensibilidade) e a terminar pelo final (diferente do livro, o qual desconheço, razão pela qual afirmo ser frustrante o encerramento dado ao filme). Não vai ultrapassar as barreiras do seu público-alvo. E vai cair no esquecimento.