Baseado em uma história real, o filme A Grande Aposta, dirigido e co-escrito por Adam McKay, tenta explicar a última grande crise econômica vivida nos Estados Unidos, quando, em 2008, alguns dos maiores bancos do país passaram a sofrer prejuízos elevados devido à inadimplência advinda dos financiamentos imobiliários. Assim como no filme, aqui é necessário fazer um adendo para explicar o por quê da crise: para facilitar o acesso da população norte-americana aos financiamentos, não se havia uma investigação rigorosa aos candidatos a adquirir um novo imóvel. Desta maneira, a partir do momento em que houve uma queda na aquisição de imóveis, houve um aumento nos juros dos financiamentos, o que gerou a inadimplência que quase quebrou a economia mundial – já que a economia norte-americana é tida como a mais forte do mundo.
Ou seja, só pela nossa introdução já dá para perceber que A Grande Aposta trata de um tema bastante difícil e um dos méritos do filme é traduzir bem o economês para a plateia, por meio de uma solução narrativa muito interessante. Nela, personalidades como a atriz Margot Robbie (conhecida por ter interpretado a esposa da personagem de Leonardo DiCaprio em O Lobo de Wall Street) e a cantora Selena Gomez explicam, de uma maneira bastante didática e simples, termos como subprime, swap, dentre outros.
Apesar desta preocupação com o didatismo, chama a atenção durante o filme a forma dinâmica com que a trama é apresentada – mérito do excelente trabalho de edição de Hank Corwin. Por meio dela, conhecemos as personagens que fazem parte de uma verdadeira teia que acabou antecipando o que ninguém previu: o eminente colapso da economia mundial. O que é único na ousadia de Jared Vennett (Ryan Gosling), Michael Burry (Christian Bale, indicado ao Oscar 2016 de Melhor Ator Coadjuvante), Mark Baum (Steve Carell), Danny Moses (Rafe Spall), Porter Collins (Hamish Linklater), Vinnie Daniel (Jeremy Strong), Charlie Geller (John Magaro) e Jamie Shipley (Finn Witrock) é que eles não são menos vilões que os banqueiros, chefes de fundo de investimentos, corretores e agentes de financiamentos – na medida em que eles ganharam bilhões com suas transações financeiras. A diferença entre eles é que, dentro da transição entre a ingenuidade, perspicácia e incredulidade que ocorre com eles, esse grupo não se comportou da forma fraudulenta como o mercado financeiro agiu durante os momentos que antecederam esta crise.
Indicado a 5 Oscars 2016, A Grande Aposta é um filme que surpreende. Principalmente porque, apesar de toda a sua verborragia, didatismo e falta de clímax, esta é uma obra que prende sem igual a atenção da plateia, que acompanha o desenrolar de cada descoberta e cada transação (bem-sucedida ou não) como se esse fosse um filme feito por um grande mestre do suspense – na realidade, todo o desenrolar dessa crise chega a ser cômico de tão ridículo, especialmente como analisamos que a bolha imobiliária foi resultado direto de um comportamento completamente inconsequente, quase amador. A surpresa fica ainda maior quando vemos que, por trás das câmeras, está um profissional como Adam McKay, que fez sua carreira com filmes bobos de comédia estrelados por Will Ferrell. Ou seja, aprendamos de uma vez: não existem diretores ou atores ruins... Existem diretores e atores sem uma grande história. Essa é a grande virada na carreira de McKay.