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    Castelo de Areia
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Castelo de Areia

    Indústria da guerra

    por Lucas Salgado

    Reconhecido pelo belo trabalho no drama nacional O Lobo Atrás da Porta, o diretor Fernando Coimbra acabou convidado por José Padilha para comandar dois episódios da primeira temporada de Narcos. Por sinal, ele comandou dois dos melhores episódios de toda a série (o sétimo e o oitavo), demonstrando um grande talento para comandar cenas de ação e tensão. Do contato com a Netflix, nasceu a oportunidade de dirigir sua primeira produção internacional: Castelo de Areia.

    Embora pior que seus trabalhos anteriores, o novo longa apresenta um recorte bem interessante da Guerra do Iraque, iniciada em 2003. A trama gira em torno do soldado Matt Ocre (Nicholas Hoult). Sem dinheiro para pagar a faculdade, ele decide se alistar no exército no início de 2001, sem a menor expectativa de ser mandado para um conflito. No entanto, no mesmo ano, acontecem os atentados de 11 de setembro e ele acaba mandado para o Iraque.

    Ocre se sente culpado por estar ali. Na verdade, se sente culpado por não ter escolhido estar ali, ao contrário de muitos de seus colegas. Com o tempo, ele acaba se adaptando à realidade, embora sua insegurança seja mais notável que a dos demais soldados.

    Após uma ação bem-sucedida em Bagdá, o grupo de Ocre está prestes a seguir o caminho de volta para os Estados Unidos. No entanto, acabam recebendo uma última missão: reestabelecer o sistema de água do pequeno vilarejo de Baquba, no interior do país. Num local menos hospitaleiro, o time terá que convencer a população local que está lá para ajudar.

    Henry Cavill, Logan Marshall-Green, Glen Powell, Beau Knapp e Parker Sawyers completam o elenco principal da produção. Nome mais conhecido, Cavill tem uma participação relativamente pequena, mas bem convincente. Ele interpreta o capitão responsável pela base em Baquba. É curioso notar que seu personagem aparece, na maioria das vezes, usando roupas normais, andando em carros menos equipados, como se convivesse com aquela realidade brutal há tanto tempo que já soubesse que um colete pouco o ajudaria num ataque maior. 

    Ao não focar sua trama em um mega conflito e ao optar por não fazer de seus personagens grandes heróis, Sand Castle (no original) lembra um pouco Guerra ao Terror, premiado filme de Kathryn Bigelow, embora não consiga entregar o mesmo nível de tensão e urgência.

    Outro mérito da produção é investir numa ação mais realista e menos favorável à indústria da guerra nos Estados Unidos. É interessante se deparar com detalhes como a falta de munição e equipamentos de segurança ou mesmo as comidas artificiais servidas aos soldados. 

    Sem se aprofundar muito, o longa ainda levanta reflexões sobre o sistema educacional americano. Isso fica claro em uma cena em que Ocre conversa com um iraquiano sobre seus estudos. Engenheiro, o sujeito explica que estudou em uma universidade local e que não pagou por isso.

    Coimbra já provou ser um cineasta muito promissor, embora aqui a direção seja uma das coisas a se ressaltar. Além de optar sempre pela tomada mais simples, incomoda o fato de que algumas opções de posicionamento de câmera acabarem servindo como dica para o que está por vir. Assim, o filme "entrega" praticamente todas as cenas de ação. Não há sentido de urgência ou surpresa, pois a tomada anterior a um ataque já deixar claro que algo está para acontecer.

    Castelo de Areia oferece bons momentos e uma boa reflexão. Mas deixa a sensação de que ficou faltando algo. O título apresenta a ideia de que a ação americana no Golfo é como construir um castelo de areia, algo que nunca será definitivo. Mas é curioso notar que o título diz isso mais claramente do que o próprio filme.

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