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    De Pernas pro Ar 3
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    De Pernas pro Ar 3

    Um recomeço

    por Barbara Demerov

    De sete anos para cá muita coisa mudou na sociedade – e a discussão sobre sexo, apesar de ainda ser tabu para uma parte, está cada vez mais presente e vista como algo tão natural quanto importante a ser falado de maneira ampla. Por isso, se no primeiro De Pernas pro Ar houve uma surpresa inicial pelo fato do negócio de Alice (Ingrid Guimarães) ser focado no mercado erótico, neste terceiro filme o sucesso da empresa Sexy Delícia é mais do que normal; já está no inconsciente coletivo de que trabalhar com foco no prazer feminino/masculino está longe de ser vulgar.

    A trilogia protagonizada por Guimarães acompanha o avanço que a sociedade, sobretudo as mulheres, encontra aos poucos: o capítulo que fecha a trilogia elabora uma trama que toca em temas como o feminismo (sem soar didático ou forçado demais), a sororidade e a independência pessoal e profissional que todas devem ter – e ainda incluindo os homens, o que se torna um ótimo ponto numa das mensagens do longa: a de não fechar os olhos para certas coisas e até aprender a rever o que pode ser melhorado.

    Dirigido por Julia Rezende, fica muito claro o cuidado e o olhar que a cineasta constrói na história, que contou a própria Ingrid Guimarães dentro do time de roteiristas. Desde o desenvolvimento detalhado de Alice, que se vê como uma estranha em seu próprio ninho após trabalhar incessantemente por anos, até o espaço dado a seu marido João (Bruno Garcia), que por sua vez tenta se encontrar no meio da arquitetura, é possível ver uma humanização sincera destes e de outros personagens. A interação de Alice com seus familiares – especialmente sua filha caçula - se entrosa bem com a linha narrativa e mostra que está tudo bem em querer ser mais que uma mãe e cuidar de seu lar. Trabalhar e conciliar as coisas, por mais difícil que pareça ser, torna-se até mais simples quando a união se faz presente.

    A jovem Leona (Samya Pascotto), personagem que integra as novidades do elenco e também é humanizada, é praticamente uma versão mais jovem e tecnológica de Alice. O que no início é utilizado como alívio cômico por incluir uma rixa entre as duas (partindo mais do lado da veterana do mercado erótico), aos poucos vai se tornando um diálogo entre duas partes que procuram se entender e não mudar uma a outra. A solução proposta pelo roteiro é justamente a de conectar gerações e isso vai muito além do âmbito profissional – resultando no maior acerto da história como um todo. Há também um ótimo uso da montagem em boa parte das cenas, mas especialmente em uma bela passagem na qual dois diálogos se confundem e se completam de forma notável.

    De Pernas pro Ar 3 conta com inúmeras cenas hilárias protagonizadas por Guimarães, que se mostra ainda mais confortável na pele da personagem. A autenticidade de Pascotto adiciona uma boa camada dramática, além de sua química com a protagonista ser evidente. O bom humor exposto não somente nas personagens como também nas locações e suas cores combina com a vibe de renovação explícita no roteiro. É uma boa comédia com início, meio e fim – finalizada com toques de uma realidade que não soa distante.

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