“Sete minutos depois da meia-noite”, filme cuja proposta narrativa traz um conto infantil, familiar, sobre a promessa do já conhecido universo da fantasia, reconstruído por um cenário lúdico, descrito pela experiência do luto, no sentido freudiano do termo.
Conta-se a história de Connor, uma criança que mora com a mãe e tem o pai ausente. Introspectivo, é resistente à relacionar-se fora de seu único aparato familiar, fragilizado por uma doença terminal. Com dificuldades em superar os abusos dos colegas do colégio e a progressão da doença da genitora, ainda tem que aprender a conviver com a avó, além de reestabelecer a comunicação com o pai, relacionamentos deveras conflituosos. Assim, mergulhado em experiências por demais adultas para uma criança, sofre de um repetitivo pesadelo quando passa a ter a visita, sempre “sete minutos depois da meia-noite”, de um "monstro-árvore" trazendo a promessa de lhe contar três histórias, na condição de Conner, ao final, contar-lhe a quarta: a de seu pesadelo.
Entre a realidade e a fantasia de Conner estrutura-se um cenário cuja plástica das imagens, associada às demarcações instrumentais da sonoplastia, exprime a melancolia aos olhos de uma criança experimentada no luto. E, enquanto o desamparo e o desprazer na realidade são vivenciados pela representação da relação com a avó e com o pai, a prática do desenho é a única alternativa para um menino elaborar situações de sofrimento as quais não possui maturidade suficiente para lidar. Uma forma de sublimação, lúdica, delicadamente representada por pinturas semelhantes a feitas com nanquim, cuja rusticidade da forma parafraseia com a inocência de uma criança diante das alteridades da vida.
Assumindo a dificuldade de debater o assunto proposto, considerado em sua complexidade, quando aos olhos infantis, o filme opta por contar histórias (através da figura do monstro-árvore) muito semelhantes aos contos de fadas, mas, diferente destes, não há heróis ou heroínas, o bem ou o mal definidos, delimitados, e tampouco promete um final feliz, no sentido clássico do termo, embora conserve a moral do caráter educativo-reflexivo de uma fábula. Forma literária representada nos desenhos de Connor, organizada no discurso do monstro-árvore, símbolo da vida por excelência, e também da morte: o maior de todos os medos na infância, perpetuado na fase adulta.
Nesse contexto criativo, a direção inclui metáforas que ampliam o sentido de compreensão das imagens assim como de circunstâncias da vida. Um primeiríssimo plano descreve, minuciosamente, a complexidade da existência humana, aceita em seus pormenores, olhada, realmente, de perto. Em contraponto, a panorâmica amplia a possibilidade (o campo) do olhar, assim como da interpretação, e o zoom out ou o zoom in, afasta e aproxima as imagens das expectativas, do imaginário idealizado, dos medos e desejos mais primitivos que, insistentemente, recalcamos. Uma sessão fílmica que também se torna de autoanálise, implicada no sofrimento, trabalhada sobre aspectos do inconsciente, mas, indiscutivelmente, necessária.