“O Protetor 2” é mais uma demonstração da habilidade incomparável de Denzel Washington em criar personagens profundos, imersivos e intensamente humanos. Dirigido por Antoine Fuqua, o filme, sequência de "O Protetor" (2014), destaca-se pela autenticidade de sua narrativa, apesar de seguir os moldes convencionais de filmes de investigação e vingança. Mesmo sem ter assistido ao primeiro filme, é possível reconhecer a qualidade e a solidez da construção deste enredo.
Um dos aspectos mais marcantes de “O Protetor 2” é a forma como o personagem de Washington, Robert McCall, é retratado. Um homem de habilidades extraordinárias, mas imerso em uma solidão latente. McCall carrega em si um misto de compaixão e brutalidade, utilizando suas habilidades de combate e sua mente estratégica para proteger aqueles que não podem se defender, mas, ao mesmo tempo, lutando contra o isolamento e a frieza emocional que sua própria vida impõe. Esse contraste torna o personagem fascinante, mostrando que ele é mais do que um simples herói de ação. A profundidade emocional é uma característica rara em filmes desse gênero e, aqui, é apresentada de maneira magistral.
Embora o filme siga o formato clássico de ação e vingança, a trama de “O Protetor 2” não se perde em clichês exagerados. O suspense, ainda que previsível em alguns momentos, é eficaz em manter o espectador preso à tela. A cada avanço da história, é possível sentir a tensão aumentar. Fuqua faz uso de uma direção firme e, ainda que aposte em elementos tradicionais do gênero, como perseguições, lutas corpo a corpo e momentos de introspecção do protagonista, consegue oferecer uma narrativa multifacetada, onde a ação é complementada pela construção emocional dos personagens.
Os antagonistas, por sua vez, são bem desenvolvidos. Diferente de vilões unidimensionais que frequentemente aparecem em filmes de ação, “O Protetor 2” oferece vilões que, embora sigam uma linha de previsibilidade, possuem motivações e camadas de personalidade que os tornam ameaças reais e, de certa forma, compreensíveis. O embate entre McCall e seus adversários não é meramente físico, mas também moral e psicológico, o que confere à narrativa uma densidade que vai além do simples combate.
Um aspecto interessante do filme é o contraste entre o papel de McCall como um protetor e a solidão profunda que ele enfrenta. Ele se preocupa genuinamente com os outros, especialmente com aqueles que parecem estar à margem da sociedade, como o jovem Miles, a quem ele tenta guiar para um caminho longe da criminalidade. No entanto, o protagonista parece incapaz de aplicar a mesma proteção a si mesmo. Sua vida é marcada por perdas, pela solidão e pela ausência de um propósito claro além da vingança e da justiça particular que ele impõe. Isso cria uma dualidade interessante: um homem capaz de grandes feitos em prol dos outros, mas incapaz de encontrar paz interior.
Além disso, é notável a forma como o filme trabalha questões contemporâneas, como a desigualdade social e a violência urbana, através dos pequenos atos de bondade de McCall. Suas ações podem parecer pequenas em meio ao caos de sua vida pessoal, mas são simbólicas de uma resistência moral que o filme parece querer destacar. Ele, de certa forma, luta para equilibrar sua brutalidade com sua humanidade, o que gera um ponto de reflexão interessante para o espectador.
No que diz respeito à parte técnica, “O Protetor 2” oferece cenas de ação intensas e bem coreografadas, mas sem exageros visuais que possam quebrar a imersão. As sequências de luta são realistas e viscerais, e a fotografia do filme consegue capturar com precisão o clima sombrio e urbano que permeia a narrativa. A trilha sonora, por sua vez, complementa bem o ritmo do filme, sem sobrecarregar os momentos de maior tensão. É um filme que se destaca dentro do gênero de ação e vingança, não apenas pela presença magnética de Denzel Washington, mas também pela forma como consegue equilibrar uma história emocionalmente complexa com as sequências de ação e suspense típicas do estilo. Embora o enredo siga alguns caminhos previsíveis, a trama nunca se perde, e os personagens são desenvolvidos com a profundidade necessária para manter o interesse do espectador do início ao fim. Washington, como sempre, entrega uma performance impecável, e é isso que eleva “O Protetor 2” além de um simples filme de ação, tornando-o uma obra multifacetada que vale a pena ser assistida.