O bom samaritano
por Francisco RussoDenzel Washington é um ator raro, não só pelo talento mas por seu gosto cinematográfico. Com duas estatuetas do Oscar na estante, por Tempo de Glória e Dia de Treinamento, e mais seis indicações no currículo, ele volta e meia se aventura em filmes de ação bem distantes de seus trabalhos mais conhecidos, por puro escapismo. O Protetor foi um destes casos, onde pôde retomar a parceria com o diretor Antoine Fuqua ao criar um personagem enigmático e letal, decidido a defender os desafortunados. Não foi um estouro de bilheteria, mas fez respeitáveis US$ 192 milhões mundo afora, suficientes para uma sequência.
Quatro anos depois, a dupla está de volta em um longa-metragem que segue bem a fórmula do original: sequências violentas de luta entremeadas com uma certa morosidade narrativa, de forma que se possa transmitir mensagens bem-intencionadas. Esta, por sinal, é uma certa contradição da franquia: por mais que defenda o respeito às pessoas no convívio diário, pune sem dó nem piedade quem não segue tal preceito. Ou seja, a velha filosofia do "aqui se faz, aqui se paga" em uma vertente bem radical, tanto pelos atos quanto pela urgência de sua execução, sob o "atenuante" de ser aplicado aos vilões da trama. Resumindo: "bandido bom é bandido morto".
Por mais que o filme original até traga um pouco desta crença, ela é encampada de fato apenas nesta sequência. É quando encontramos Robert McCall à vontade em sua função de vigilante anônimo, disposto a usar seu tempo e economias para ajudar as pessoas que encontra. Neste sentido, sua nova profissão como motorista vem bem a calhar, permitindo que presencie com facilidade os dramas do cotidiano - além de também servir a um merchandising condizente com a trama. Sai o personagem ainda indeciso se deve agir, constante no filme original, entra sua versão confiante acerca do que faz. Um pequeno detalhe que faz uma grande diferença na narrativa.
Se no primeiro filme Antoine Fuqua investia bastante no mistério acerca de seu personagem principal, além de um certo histrionismo estético no terço final, há aqui uma clara busca pela naturalidade. Reflexo do momento de vida de McCall, mais uma vez conduzido na base do carisma por Denzel Washington, em uma trama que envereda bastante pelo passado do personagem. Não por acaso, Fuqua recorre aos ícones do faroeste para, neste terço final, recriar um bangue-bangue em plena cidade fantasma.
Fiel ao conceito de fazer o bem a quem não se conhece, O Protetor 2 é uma sequência que avança junto com seu personagem principal, se adaptando ao seu momento de vida tanto pelo lado estético quanto narrativo. Ainda assim, o ritmo lento empregado muitas vezes afasta o espectador, aliado às necessárias (e cansativas) lições aplicadas por McCall em sua jornada diária em ajudar a todos. A cena de luta no carro e os ecos ao faroeste no terço final, aliados à boa presença de Denzel Washington, são o que mais chamam a atenção neste filme até interessante, mas sem grandes novidades.