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    Colheita Amarga
    Críticas AdoroCinema
    0,5
    Horrível
    Colheita Amarga

    Sessão indigesta

    por Taiani Mendes

    É impossível acreditar em Colheita Amarga e isso é muito triste, pois o genocídio ucraniano conhecido como Holodomor é um terrível fato histórico pouco retratado cinematograficamente. Dirigido por George Mendeluk (Almôndegas 3), o drama evoca o pior estilo Lifetime para contar a história de amor entre Yuri (Max Irons, que não puxou o talento do pai Jeremy) e Natalka (Samantha Barks), usando como pano de fundo a fome que dizimou a população da Ucrânia em 1932 e 1933.

    A moral da história é apresentada logo no início – “ninguém tira sua liberdade” – e o longa-metragem só vai gerando cada vez mais constrangimento com frases feitas, discursos sem emoção, cavalos correndo, trilha sonora piegas, câmera fechando conforme a tensão aumenta e roteiro tão raso que a partir do primeiro segundo de qualquer sequência já é óbvio como a mesma irá terminar.

    O plot é uma maravilha, parece recuperado da lixeira de algum executivo de estúdio hollywoodiano dos anos 1950. Yuri, herdeiro de heróis, quer ser pintor e casar com a paixão de infância. Comunistas do estilo clássico “comedor de criancinha” chegam, arrasam tudo e bagunçam a vida do protagonista, que se afasta dos que mais ama. Conforme o tempo passa e a situação endurece, o rapaz vai trocando os pincéis pelas armas e seguindo a lição de seu pai, de perseguir a liberdade. A produção mira na construção de um mito na base da dor, nos moldes de Coração Valente, e acerta na própria cabeça, pois é risível, incapaz de ser levada minimamente a sério – assim como a maquiagem “envelhecedora” do final.

    Os vilões comunistas reúnem todos os clichês existentes sobre a ideologia (odeiam religiosos, casamentos e propriedades privadas) e o principal antagonista, o militar Sergei (Tamer Hassan), ainda capricha nas caras e bocas de prazer com a crueldade e sofre do mal bastante comum da relação bizarra com a mãe. A ordem é seguir os planos de Lênin "sem misericórdia" e Stalin, que surge sempre num verde acinzentado que cheira a mofo e falta de noção artística, só aparece para dar ordens cada vez mais cruéis, encarnando o mal absoluto.

    Buscando compensar o fato de não conseguir executar com destreza a jornada do herói, Mendeluk volta e meia insere uns planos tão belos quanto vazios de horizonte, céu... Imagens que ficariam bem como papel de parede de computador, mas aqui apenas reforçam a total falta de tato e mau gosto do realizador. A ruindade absoluta chega a ser desrespeitosa com o tema e os rituais ucranianos brevemente retratados indicam que não é por preguiça de pesquisa ou falta de conhecimento que a história é tão mal contada.

    Colocar um romance em foco para tornar uma tragédia mais palatável nas telonas é algo discutível, mas Titanic, por exemplo, comprova que é possível com talento. Colheita Amarga, no entanto, não dá conta minimamente do horror que o inspirou, não entrega amor e tampouco narra de forma aceitável o arco do artista tornado guerreiro. É uma perfeita bomba.

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