Eu diria que em alguns anos atrás os filmes de terror e suspenses eram muito melhores e eram bem mais recebidos e aceitados, até mesmo pela época do cinema, por não ter que seguir uma única linha (faturar muito), os filmes se apresentavam melhores nos momentos. Atualmente o cinema tem se tornado cada vez mais um meio lucrativo e ás vezes isso prejudica muito na construção de vários gêneros cinematográficos, inclusive o terror, onde parece que o diretor recebe uma imposição dos produtores e sempre acaba seguindo um caminho já desgastado. Assim eu vejo o filme A Autópsia (The Autopsy of Jane Doe, no original).
A Autópsia é um filme de terror e suspense dirigido pelo estreante diretor André Øvredal e conta a história de um necrotério em uma cidadezinha pacata nos EUA, necrotério esse que fica no porão da casa de Tommy Tilden (Brian Cox) e Austin Tilden (Emile Hirsch), seu filho. Ambos trabalham em autópsias de mortes mais normais, certo dia o xerife da cidade traz um corpo de uma jovem (Olwen Catherine Kelly), denominada por Jane Doe (uma desconhecida, como eles chamam por lá) que foi encontrada enterrada nas redondezas. Quando começam a autópsia na moça para detectar a causa de sua morte, é aonde tudo começa acontecer.
O longa começa muito bem logo na primeira cena ao mostrar um local de um brutal assassinato com corpos mutilados e sangue pra todos os lados. A parte mais funcional e melhor de todo filme é sem dúvidas o início da autópsia em Jane Doe, as cenas são muito reais e muito bem feitas, a medida que eles vão iniciando a autópsia o filme começa a testar os limites dos expectadores, com ótimas cenas bem elaboradas. O cenário do necrotério envolto em um clima macabro e sombrio é muito bom (me remete ao primeiro Jogos Mortais), a fotografia densa e escura é outro destaque, a trilha sonora é boa e as partes sem ela deixa o clima ainda mais sufocante e nervoso. O roteiro começa em um perfeito acerto ao testar os limites de ceticismo dos personagens ao se deparar com um corpo muito danificado por dentro e sem nenhum tipo de marca por fora, as cicatrizes nos órgãos, o fato do corpo ainda apresentar sangramento mesmo depois de muitas horas da morte. Com certeza é a melhor parte do filme e a que mais empolga, os personagens buscando explicações em teorias vai te deixando cada vez mais preso à trama, o roteiro começa a se fechar entre o natural e o sobrenatural e você começa a acreditar que realmente está assistindo um filme de terror diferente e que tem tudo pra dar certo. Eu queria muito acreditar nisso e que não se tornasse mais um filme de terror pastelão e cheio de clichês.....Porém!!!
O roteiro desaba em uma descida sem fim, André Øvredal estava indo muito bem, mas de repente ele começa a se perder e a perder toda a essência do filme. Tudo que acompanhamos até o momento de repente desapareceu e o filme começou a tomar o caminho do terror padrão e dos jumpscare, começou a navegar em inúmeros clichês como portas se fechando sozinhas, sustos forçados, vultos aparecendo em frestas de portas, imagens e sons aparecendo em corredores...Enfim!!! O filme estava indo tão bem, sério, eu estava me impressionando cada vez mais com a forma que estava sendo apresentado, o enredo estava muito bom, o roteiro fechadinho e as atuações dos personagens em um bom tom. Sinceramente eu não intendo o porque de tomar esse caminho totalmente desgastado nos filmes de terror atuais, eu não curto nem um pouco o fato dos filmes de terror moderno querer te forçar ao susto, querer te fazer sentir medo ou algum outro tipo de sentimento forçado, eu não tomei um susto sequer em todo tempo de clichezão barato, começa a se tornar uma coisa chata e você já sabe o que vai acontecer, não tem como se assustar.
O longa pecou muito quando decidiu seguir essa linha, e olha que o filme não é ruim, é bom, a história é muito boa. As atuações são boas, Brian Cox está muito bem, seu ar de auto conhecimento é muito funcional e você passa a gostar do seu personagem, até a parte que começa o clichezão, porque daí pra frente, meu Deus, não tem como gostar de sua atuação, a cara de pânico dele não convence (chega a ser quase engraçado). Emile Hirsch completa direitinho o personagem, a química entre pai e filho trabalhando na autópsia é muito boa. Olwen Catherine Kelly é a melhor de todo o filme, mesmo morta desde a primeira cena ela conseguiu impactar com seu olhar compenetrado e profundo. Ophelia Lovibond aparece pouco e na segunda vez já de uma maneira um tanto quanto inusitada.
Portanto A Autópsia se divide em duas partes: A ótima do início (até a parte da autópsia) e a péssima do meio pro fim, mas mesmo assim eu ainda consegui gostar, e ao fim o longa ainda deixa um brecha de uma provável formação de uma nova franquia.......SERÁ??????