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    Versões de um Crime
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Versões de um Crime

    Um jeito óbvio de contar histórias

    por Bruno Carmelo

    À primeira vista, este parece ser um suspense jurídico comum: ele começa com um crime, se desenvolve quase inteiramente dentro do tribunal e fornece pistas falsas até a revelação da verdade. O roteiro toma o cuidado de sugerir diferentes versões e propor bifurcações no julgamento, oferecendo ao espectador o prazer de construir suas próprias hipóteses. O filme constitui, de fato, um simples jogo de adivinhação. Para os aficionados de surpresas no final, a história reserva uma reviravolta para sabotar as suposições do público.

    Em termos estruturais, Versões de um Crime cumpre o que promete, sem apresentar ambições estéticas ou narrativas. Na trama, um adolescente (Gabriel Basso) é acusado de matar o pai agressivo (Jim Belushi) para proteger a mãe (Renée Zellweger). O brilhante advogado Ramsey (Keanu Reeves), amigo próximo da família, é encarregado de defender o garoto. A diretora Courtney Hunt acompanha os personagens com enquadramentos acadêmicos, fechando a imagem nos rostos ou ampliando-a para revelar um olhar suspeito no fundo do enquadramento. Violinos tensos reforçam momentos de agressão, nos quais personagens tipificados – o marido canalha, o filho tímido, a esposa submissa – são apresentados ao espectador.

    O elemento diferencial deste projeto é a sua relação com o espectador. Suspenses são baseados no desequilíbrio de informações: ora o espectador conhece algo que os personagens desconhecem, ora os personagens detêm um conhecimento alheio ao público. No entanto, Versões de um Crime não consegue guardar segredo, nem trabalhar com dubiedades por muito tempo: enquanto o julgamento se desenvolve, Ramsey explica em voz off tudo o que está pensando, o que deve acontecer em seguida e os possíveis contra-ataques do adversários. As suposições são confirmadas em seguida. Enquanto isso, sucessivos flashbacks explicam o que realmente aconteceu.

    Hunt oferece informações preciosas ao espectador, gratuitamente, estragando parte do prazer de adivinhação. Esta decisão seria corajosa caso retirasse do gênero o jogo de pistas falsas, para transformar o dilema do adolescente num drama ao invés de um suspense. Mas o terço decisivo, com sua reviravolta mirabolante, confirma a vontade de pegar o público desprevenido. Para aqueles acostumados às investigações espetaculares de C.S.I., Law and Order e derivados, a investigação pode soar simplória. Esqueça DNA, fios de cabelo, impressões digitais, diferentes leituras da cena do crime, investigações sobre cronologias e a presença de testemunhas. O roteiro verborrágico reserva a sua energia à tese de que todos mentem, desde os réus aos advogados e testemunhas. Hunt acredita que esta concepção basta para manter o interesse do público, mas a proposta da mentira inerente ao ser humano soa como lugar-comum.

    Versões de um Crime revela-se monótono demais perto da maioria dos suspenses de tribunal. Pouco importa o esforço de Keanu Reeves, René Zellweger ou Gugu Mbatha-Raw – esta última, excelente como sempre, ainda que subaproveitada. Os personagens se resumem a peças de um jogo de xadrez previsível: você pode não saber exatamente qual é a reviravolta final, mas sabe que ela vem, e quando vem. Você sabe que tal acusado não é autor do crime, e que tal pessoa esconde segredos, até porque o narrador e os flashbacks estão nos contando exatamente isso. Talvez a diretora tenha procurado fazer um filme simples, modesto, à moda antiga, focado no drama humano ao invés da tensão e da batalha jurídica. Mas para esta premissa funcionar, seriam necessários personagens mais complexos do que estes.

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