O filme em si é muito interessante. Nunca vi o desenho animado, por isso não vou fazer comparações, até porque o filme é uma adaptação e não um copiar e colar
O filme consegue ser levado num ritmo que o difere da maioria das produções de Hollywood, feitas apenas para entreter. Consegue levantar alguns problemas durante seu desenvolvimento, como se é possível saber se surgimos ou não há poucos segundos com todas as nossas memórias já instaladas. Ou seja, o problema de não ser necessária a experiência pessoal para se ter determinada memórias. O filme também passa rapidamente pelo problema chamado "Cérebro num tanque", ou seja, como saber se não somos apenas um cérebro recebendo estímulos elétricos para termos falsas sensações e memórias, afinal, nossas sensações não são formadas nos olhos, ouvidos, nariz, etc. e sim em áreas específicas do cérebro.
Durante o filme, a protagonista parece angustiada por não saber o que ela seria. Afinal, qual seria a diferença de um corpo vivo para um corpo morto? Apenas as funções que o corpo vivo é capaz de realizar, pois, de um ponto de vista molecular, ou seja, estrutural, não haveria muitas diferenças. Ou seja, caso apenas nos restasse o cérebro e não fôssemos capazes de urinar, defecar, suar, respirar, em resumo, realizar as funções corporais, ainda estaríamos vivos? O que é vida? Onde começa e termina a vida? Como as outras pessoas se relacionariam com um ser que parece estar e não estar vivo ao mesmo tempo? Na cena em que ela paga uma prostituta para sentir sua pele, essas questões ficam claras.
Infelizmente, o filme se perde um pouco no final e descamba para um bang bang Hollywoodiano genérico. Contudo, isso é compreensível, pois, se assim não fosse, não faria tanta bilheteria e tampouco poderia ser chamado de filme de ação. Afinal, os estúdios não ofereceriam 100 milhões para se fazer filmes que não dessem retorno.
Outro problema do filme é repetir à exaustão que não é a memória que nos define, e sim o que fazemos. Óbvio que isso é falso. Mudamos praticamente todas as células de nossos corpo de 7 em 7 anos. Crescemos, envelhecemos, enrugamos, surgem cicatrizes de ferimentos, a pele mancha, a voz muda, os cabelos caem, os hormônios passam a se comportar de outras formas. Então o que faz de nós nós? Nossas memórias, claro. Sejam elas verdadeiras, falsas, criadas, reelaboradas, implantadas, fruto ou não de nossas experiências sensórias. São nossas memórias conscientes e inconscientes (que tentamos reprimir ou das quais não nos lembramos muito bem, apesar delas estarem ali em algum lugar), tristes, alegres, de sofrimento, de dor, etc. que cria a nossa identidade para nós mesmos.
Finalmente, colocando tudo na balança, GitS é um bom filme, que tenta dar uma fugida do estilo Disney que anda dominando os filmes de ação e aventura nos dias de hoje.