A Travessia (The Walk)
Direção: Robert Zemeckis
2015
Com: Joseph Gordon-Levitt, Ben Kingsley, Charlotte Le Bom, Clément Sibony, James Badge Dale, Ben Schwartz.
Drama
14 Anos
Em 1974 um equilibrista francês chamado Philippe Petit chamou a atenção do mundo ao atravessar as Torres Gêmeas suspenso em uma corda e com as torres ainda em construção. Não bastasse a ousadia e coragem do feito, toda a preparação foi feita à surdina e Philippe contou com amigos, namorada e de seu mestre, Papa Rudy.
Tudo isso foi contado no documentário O Equilibrista, de 2008, que faturou o Oscar de Melhor Documentário na ocasião.
Mas, como pouca gente assiste a documentários e essa é uma história fantástica demais para ser ignorada, o diretor Robert Zemeckis dirige, escreve e produz um longa metragem de ficção desta mesma história: A Travessia é baseado no livro ‘To Reach the Clouds’, escrito pelo próprio Petit e tomou algumas liberdades poéticas, mas, ao contrário do que se possa imaginar, essas liberdades funcionam, sobretudo porque mesmo com o público sabendo como a história termina, o roteiro coloca, tanto o protagonista como o grupo, em situações que a coisa pode dar errado: por diversas vezes eles passam por situações de perigo e a desistência é constantemente dita.
O filme é narrado em 1ª pessoa pelo próprio Joseph Gordon-Levitt (que está em cima da Estátua da Liberdade enquanto narra) e conta desde sua infância em Paris até sua ação no World Trade Center, mostrando suas primeiras apresentações no centro da cidade-luz, na qual muitas vezes ele se apresentava clandestinamente, o não-apoio de seu pai, sua saída de casa por conta disso, sua amizade com o mestre Papa Rudy, aqui vivido pelo Ben Kingsley e seu início de namoro com Annie, que também era artista de rua e começou a acompanhar Petit em sua trajetória.
Petit teve a idéia de andar sobre uma corda nas Torres Gêmeas após ver um anúncio da construção das mesmas em um dentista, levou meses para arquitetar tudo: viajou para Nova York, se disfarçou de operário, arquiteto, engenheiro, calculou a distância, o tempo, precisava saber como prender as cordas de forma eficiente, enfim, nada poderia dar errado.
O filme acerta em focar no sonho de Petit e para os próximos anos, pode muito bem funcionar como um filme de auto-ajuda, afinal, para seguir com um sonho, uma idéia, às vezes precisamos burlar as regras do sistema e seguir o coração – ao invés de seguir ordens. E se contarmos os artistas mais geniais da história, independentemente da área, todos fizeram isso.
Já fazia um bom tempo que o diretor Robert Zemeckis não tinha um sucesso crítico como este, ele começou sua carreira na década de 80, sendo parceiro de Steven Spielberg, mas logo foi criando independência criativa e seu melhor filme até aqui, que é Forrest Gump (tá bom, um dos dois melhores, estando ali empatado com De Volta Para o Futuro) foi o filme que lhe rendeu o Oscar de Melhor Diretor em 1995 e há sim, muitas semelhanças com os dois filmes, ‘A Travessia’ e ‘Forrest Gump’ embora possa soar exagerada essa comparação, elas existem sim: além da já citada narração em off do próprio protagonista, a infância reprimida, o primeiro amor de forma pura (embora Annie e Jenny tenham psicológicos completamente diferentes), a história se superação e a trilha sonora lírica de Alan Silvestri, que assim como em Forrest Gump, é quase um personagem no filme.
Quem for assistir ao filme em casa, pela internet ou em DVD, vai acompanhar uma grande história, mas o 3D – e o IMAX também – trazem a imersão que o filme necessita com a câmera quase vertiginosa de Zemeckis e assim como em Forrest Gump, mostrando efeitos onde não se nota, como em Petit se equilibrando na corda, o World Trade Center feito por computação gráfica e a boa reconstrução da época. E tudo isso necessita de uma boa profundidade em 3 dimensões, que ‘A Travessia’ faz muito bem.
Nesse cenário, Robert Zemeckis entra na galeria dos grandes cineastas que usaram bem este recurso: recentemente tivemos Ridley Scott em ‘Perdido em Marte’ e também temos Martin Scorsese em ‘A Invenção de Hugo Cabret’, Alfonso Cuarón em ‘Gravidade’, Ang Lee em ‘As Aventuras de Pi’ e James Cameron em ‘Avatar’.
‘A Travessia’ não tem a perfeição de Forrest Gump (o envolvimento familiar ficou enxuto demais no início e ele perde um pouco o ritmo em uma determinada hora), mas foi maravilhoso ver que este cineasta que aprendemos a respeitar e gostar não perdeu a mão de uma boa direção, de trabalhar bem os atores e adaptar uma boa história (que poderia se perder, já que temos a referência do documentário). O público até o perdoa pelas suas animações medianas da década passada.
Nota: 9,0