O que é real? Se você respondeu: ora, aquilo que posso tocar, sentir, ver, cheirar... Você pode estar enganado. Considerando isso, você pode estar iludindo-se com o seu método de detectar ilusões. Confuso? Também acho. Esse tipo de indagação foi estudada pela filosofia e diversos filósofos se dedicaram a ela, incluindo, principalmente Kant, como também parece guiar a trama do filme Oculus.
Oculus é um filme recente, lançado no começo do ano, traz em sua história algo que a primeira vista parece ser uma formula antiga, repetida várias e várias vezes pelos filmes de terror, uma receita que aparenta mudar apenas o titulo e o nome dos ingredientes. Mas essa impressão se desfaz a medida que vamos nos aprofundando na intricada história de dois irmãos, envolvidos numa tragédia. E até para efeito de compreensão, “Oculus” vem do latim e quer dizer “olho”, intrigante não?
Após sair do hospital psiquiátrico por ter matado o pai em legitima defesa (já que ele matou sua mãe e tentou matar a si e sua irmã), Tim reencontra sua irmã, Kaylie, após dez anos. Kaylie acredita que a terrível história de sua família está relacionada ao velho espelho medieval que ficava no escritório do seu pai e que guardava dentro de si um demônio. Para provar isso, ela isolar-se em sua velha casa com Tim, estando preparada dessa vez para tudo o que poderia acontecer baseado nas diversas mortes já ocorridas na história do espelho.
É nesse ponto do filme que ele atinge o seu melhor. A artimanha do espelho ou do que seja lá que o habite é confundir com as mais diferentes ilusões quem está próximo. Nesse momento, o leitor já deve imaginar como o filme se desenrola. Os personagens perdem qualquer noção de tempo e espaço, enquanto na casa, e nessa constante desconfiança e medo acabam por testemunhar situações que podem ser reais ou não e o pior sem nenhuma forma de discernir a ilusão da realidade.
Agora é que a teoria de Kant se faz presente. Como diferenciar ilusão do concreto? Usando os nossos sentidos estamos nos baseando nas interpretações que nosso cérebro faz baseado nos sentidos, que sabemos bem não ser lá muito preciso. O intenso questionamento é difícil de ser respondido, pois, até agora nesse momento, o leitor pode estar sonhando ler esta crítica, sem perceber que é um sonho. E agora, você está sonhando ou no mundo real? O mundo é o que vemos??
Mas antes que eu entre reflexões mais profundas e portanto, mais difíceis e confusas. É necessário dizer que Oculus soube trabalhar muito bem esse tema. Misturando em seu desenvolvimento o passado dos irmãos com o seu presente, com lampejos do presente e do passado que se confundem constantemente. O diretor consegue manter a tensão e o suspense em torno do filme fazendo-o ser mais interessante para quem assisti. Mesmo sendo um filme de terror, Oculus não se destaca pelos sustos (que são poucos), pelo choque de cenas sangrentas ou por monstro assustadores em sua forma, mas sim pela tensão sufocante sofrida pelos personagens, vinda principalmente de suas perspectivas deturpadas. Se pretende assistir ao filme, veja apenas o filme, se não poderá se perder na historia ou detalhes que fazem pouco sentido instantâneo, mas muito no decorrer da trama.
O filme tem também seus pontos fracos. A começar por certas pontas que ficam desatadas e do final que apesar de ser logicamente esperado, pode não agradar aos mais exigentes. A atuação em certos pontos acabou por ser pouco uniforme.
Por fim, Oculus é um ótimo filme para quem deseja sair da rotina. Para os fãs do gênero terror/suspense pode não trazer muito no enredo, mas a sua condução elaborada pode ser uma certa surpresa.