Ao se tratar do gênero "terror" temos sempre as mesmas ideias. Mesmo enredo, mesmas situações, como casas assombradas por assassinatos passados, falta de conteúdo (fato compensado com sustos previsíveis), falta de originalidade. Quando nos deparamos com "O Espelho" (no original "Oculus"), logo de cara sentimos que presenciaremos um espetáculo clichê, com muitos sustos, muito sangue, espíritos, demônios, e assim por diante (afinal temos o produtor de "Atividade Paranormal" e "Sobrenatural"). Mas a história tem outro lado.
O trama se desenvolve em torno dos irmãos Tim e Kaylie (interpretados por Brenton Thwaites e Karen Gillan). A morte inexplicável de seus pais causou mudanças interiores em ambos. Tim, ao sair de um hospital psiquiátrico após anos internado, se reencontra com sua irmã. Esta por sua vez acredita que um grande espelho que acompanhou a família durante muito tempo apresenta uma forte relação com inúmeras tragédias. Cercados por fenômenos sobrenaturais os irmãos tentam decifrar todos os mistérios, e provar que o espelho esconde segredos surpreendentes e assustadores.
Um dos pontos fortes de "O Espelho" é a sua originalidade. Fugindo dos padrões convencionais desde pontos simples como o enredo até questões mais complexas como características físicas e não-físicas das personagens, traz o novo em muitos aspectos. Não se trata de um terror convencional, lidamos com uma história nunca antes contada. Aqui não temos a loira bonita e burra, o conquistador capitão do time, a "estranha" que acaba ficando com o "estranho"- geralmente o protagonista da história. Fruto de tanta complexidade, o longa acaba sendo mal visto por muitos olhos.
A história é confusa até o fim. Muitos eventos acontecem seguidos uns dos outros, o que exige uma atenção redobrada. E mesmo com tanta coisa acontecendo, o filme, infelizmente, se segue parado. Apesar disso, apresenta bom desenvolvimento dos fatos (nada é revelado logo após ser apresentado, causando assim curiosidade do público). A partir de certo ponto não sabemos mais o que é passado, o que é presente, o que é real, o que é ilusão, ou sobrenatural, como em "O Iluminado" de 1980 (não querendo comparar esta obra à de Kubrick, pois não há como). E de fato ao término do filme ainda podemos nos indagar se foi real ou não. Isso pode ser um problema, pois transmite a sensação de "ideia não concluída".
Como já disse, o filme se segue parado, a complexidade acaba se tornando um pouco exagerada em certos momentos, o que faz com que muitos não entendam nada. Evidentemente, se analisarmos a história com outro olhar notaremos sentido em tudo. Mas afinal, por qual motivo tanta complexidade é quebrada subitamente com informações explícitas que tornam um futuro desfecho previsível?
Isso pode ser notado claramente logo na primeira cena do filme, que basicamente revela a última.
Apesar de pequenas falhas e alguns defeitos significativos, o filme apresenta sim grande originalidade e promete no mínimo causar surpresas inesperadas. As atuações não são de se dispensar.
Agora, se o que buscas é algo extremamente assustador, de tirar o fôlego, "divertido", procure outro filme, pois o que vemos neste é uma caixinha de surpresas que pode surpreender alguns, e outros não. Nada além disto.