O Espelho
De: Roberto Júnior
O gênero Suspense tem sido cada vez mais substituído pelo estereotipo Terror Psicológico. Com certeza resultado da carga de poder que esse epíteto carrega. Além do fato que essa via de trabalho cada vez mais explorada por Hollywood fornece espaço para tensão psicológica com o horror visual de qualidade gráfica variada.
O Espelho é uma exemplificação desse assunto, ao trazer o esquema técnico/visual dos terrores atuais (o que é esperado já que a produção bate no peito quanto aos outros trabalhos de seus produtores, vide Atividade Paranormal e Sobrenatural), porém se destaca quanto ao roteiro.
Um filme curto e que abusa do uso de flashbacks, logicamente não tinha espaço para diálogos não-lineares ou cenários variados, sem sair do clima de tensão concentrada que o gênero em si requer.
Dirigido pelo simples e esforçado Mike Flanagan, a produção traz o casal de irmãos Kaylie (Karen Gillian) e Tim Russel (Brenton Thwaites) que são traumatizados pela misteriosa morte dos pais. Tom é internado para cuidar de seu psicológico pós-traumático e Kaylie se torna bem sucedida e noiva, enquanto por dentro está decidida a resolver o mistério de seu passado. E é quando seu irmão é liberado que Kaylie o convida para a antiga casa onde ocorreram as mortes de seus pais e enfrentar o mal habitado em um espelho aparentemente sobrenatural.
Gillian se esforça e consegue com êxito interpretar a personagem decidida e forte que lidera aquela expedição ao terror de seu próprio âmago, fugindo do esquema tático e dramático das protagonistas femininas clichês e escandalosas. Thwaites, por outro lado, desempenha seu papel com simplicidade, não cedendo na atuação a profundidade que sua personagem requer, nem mesmo nos momentos dramáticos em que tem de enfrentar seu próprio passado.
O diretor Flanagan assume também o roteiro, pegando para si a responsabilidade de um terror psicológico que tenta fugir da dinâmica retrógrada, dando um ar moderno/tecnológico até mesmo aos flashbacks, que remetem a 2002. Além de levar a sério o estereotipo de Terror Psicológico, dando ao espectador uma experiência alucinógena e confusa quase em primeira pessoa cuja dinâmica e essência supera (mesmo que por pouco) a confusão na lógica estrutural da história. Flanagan porém peca ao não dosar a duração dos flashbacks, cedendo informações demais e tornando a trama previsível mesmo com o alternar dos períodos, fazendo do diferencial atemporal um mero quesito ínfimo e em alguns momentos até mesmo sem sal.
Parece que as mulheres de fato dominaram o filme, já que a mãe cada vez mais perturbada interpretada por Katee Sackhoff traz o ápice do terror visual ao filme, enquanto o pai apenas traz maior amplitude aos detalhes perturbadores/ilusórios que o espelho é capaz de criar. E a atuação da jovem Kaylie, dada a Annalise Basso, respeita as características da personagem e entra em harmonia com o trabalho de Karen Gillian. E o mesmo pode ser dito do jovem Tim, interpretado por Garrett Ryan que não apenas combina com a atuação de Brenton Whwaites, como o supera!
Um filme que vai além dos terrores atuais, trazendo em si uma inteligência atualmente pouco vista nas produções do gênero. E que foge dos clichês (embora a cena do jogo de câmeras de aproximação entre a personagem e o espelho seja um clássico, mesmo que necessário) respeitando a imprevisibilidade. Muito embora falhe na dosagem estrutural e nos requintes que tornam o Espelho um filme elegante.