Boyhood é um trabalho peculiar para o público geral do cinema. Os filmes do diretor Richard Linklater não costumam alcançar muita gente no país (Boyhood mesmo passou em pouquíssimas salas de cinema), e sempre trazem temáticas inerentes a psique humana. E neste filme ele consegue trazer isso de uma forma cinematograficamente incrível.
O filme nos conta a história de Mason (Ellar Coltrane), um garoto vivendo em uma família desfuncional, entre seus cinco e dezoito anos. E aqui entra o grande destaque do filme, que foi filmado durante esses 13 anos, mostrando todas as mudanças entre os atores e tornando tudo mais verossímil.
É imensamente real a forma como vemos o filme a partir deste ponto, pois ele se torna uma experiência, um mergulho na história que torna a sua aproximação com as personagens muito mais profunda. E isso não só por este fator, mas pela sua combinação com a história que se pretende contar. A família de Mason é cheia de pequenos ou grandes problemas e defeitos, com uma mãe tentando desesperadamente elevar seus filhos para novos caminhos, e que acaba deixando uma trilha de ex-maridos nisso. Eles são um dos pontos altos do filme, representando uma opressão que há para quem é diferente, para as mulheres, um reflexo até mesmo da própria política americana. E isso contrasta com o real pai de Mason, uma das poucas pessoas no filme que realmente entende o garoto, aceita-o, e, novamente levando para a política, é um democrata (a cena onde eles roubam placas do candidato McCain e as trocam por outras de apoio a Obama é uma das melhores do filme).
Isso é só uma parcela da vida do garoto. Ainda temos as suas situações na escola, as constantes mudanças de casas, pais, namoradas, empregos e sonhos… tudo afeta Mason, como realmente deve ser. Vemos inúmeras mudanças no garoto ao decorrer do filme (principalmente em seus estilos visuais), vemos muitas dúvidas surgirem, especialmente quando nos aproximamos de seu final, e muitas pessoas indo e vindo da vida dele.
Isso porque o filme se propõe a nos deixar perguntas, mas nunca respostas. Boyhood é uma pintura levemente realista da nossa vida, da nossa luta pela auto-descoberta, pelo futuro. E que maneira melhor de representar isso do que nos deixando apenas perguntas? No final do filme, o personagem se pergunta o que será do futuro dele, filosofa sobre a vida, as dúvidas, mas não chega a nada maior. Porque é assim que funciona, é assim que seguimos em frente, com perguntas e mais perguntas, raramente com respostas claras.
Boyhood é uma experiência. Algo que trará perguntas, dúvidas, emoções e o fará pensar por um bom tempo. É a vida de Mason, mas, com pequenas mudanças, poderia ser facilmente a de um de nós.