Dentre muitas vertentes do cinema, uma delas é ser uma janela para a vida, e poucos filmes no cinema conseguem fazer isso com tanta perfeição como boyhood, com sua ideia ousada de ser gravado durante 12 anos, ele consegue sucesso em simplesmente retratar a vida, com todas as suas escolhas, erros, acertos, dramas, amores, desilusões, decepções e esperança. Simplesmente contando a historia de uma mãe e seus dois filhos, a trama passa pelos casamentos mal sucedidos da mãe, a busca da rendição do pai biológico, a busca pelos sonhos, a evolução, estagnação e involução de nossos personagens. O roteiro não é megalomaníaco, não é complexo e nem cheio de reviravoltas, é claro que temos muitos espelhos narrativos, e até alguns easter egg que diretor coloca, mas na sua essência ele é simplesmente retratar os passos de um menino, da infância a juventude, sua clareza e simplicidade causam a perfeição em retratar todas as sutilezas da vida, lembra muito o recente “Manchester a beira mar”, e até do polemico “Azul é a cor mais quente” ,“Boyhood” é quase um épico, um épico da vida real. Com uma moral que é submetida a trazer uma mensagem que “tudo tem seu tempo certo na vida”, é uma mensagem bonita, que o filme a legitima, mas de uma maneira completamente natural, sem querer dar lição de moral ou fazer julgamentos. Com uma fotografia sempre clara e câmeras simples que buscam simplesmente mostrar a naturalidade e beleza do comum, temos uma ótima montagem e um ritmo extraordinário, suas quase 3 horas de duração estão mais para 20 minutos, alias, é quase como espionar a vida de alguém por 12 anos, não posso deixar de citar sua afinada trilha sonora, que entre muitas coisas, ajudam a marcar temporalmente a linha do tempo do filme, além de transmitir sentimentos, sejam eles o puro clima de aventura até a melancolia. Em termos de atuações temos muitos desastres e atuações que se perdem completamente com o passar do filme, afinal, não podemos esquecer que os atores da obra a gravaram durante doze anos, mas temos que citar o ator Ellar Coltrane, que durante os doze anos faz uma atuação incrível (uma pena que veremos o ator em sua fase mirim apenas nesta obra), vale uma menção também a Etha Hawke que consegue dar uma evolução perfeita ao seu personagem mas sem perder sua essência, e claro, não posso terminar sem falar do completamente maluco e ousado Richard Linklater, que rodou de maneira escondia a película por doze anos, e fez um trabalho de direção perfeito, ao mostrar como a vida é simples e ao mesmo tempo complicada , e como todas as suas fases tem uma beleza intrica. “Boyhood” com certeza é um filme único, disso não podemos ter duvidas, é incrível como Richard cumpriu com maestria seu objetivo, e como o mesmo é sutil e não brinca com o telespectador, muitos personagens são evoluídos de maneiras intricas, com gestos que não são destacados na tela, Richard consegue alinhar o roteiro ao ritmo perfeitamente e consegue mostrar através de sua câmera a vida.