Ficou na tentativa
por Lucas SalgadoA Netflix parece disposta a investir em ficções científicas em seus filmes originais, seja dentre os que acompanharam desde o início da produção, seja com os adquiridos pelo caminho. Nos últimos meses, obras como The Cloverfield Paradox, Aniquilação e Extinção mostraram a atenção da empresa com relação ao gênero.
No caso de Aniquilação deu certo e o resultado final é extremamente positivo. No caso de Cloverfield 3 e do novo Extinção, o desfecho não foi tão feliz. Dirigido por Ben Young, o último conta a história de Peter (Michael Peña), um sujeito atormentado por pesadelos de um futuro apocalíptico. Ele tem a clara sensação de que há algo real por trás daqueles sonhos. Quando se vê ao meio de um ataque global, ele percebe que há muito além naquelas visões do que esperava. Enquanto tenta encaixar as peças, ele busca proteger a esposa Alice (Lizzy Caplan) e as duas filhas.
Extinction (no original) investe em uma série de reviravoltas e brinca com as noções de flashbacks e flashfowards. Oferece um certo enigma, mas nunca consegue prender totalmente a atenção do espectador. O roteiro escrito por Spenser Cohen e Brad Kane é pouco inspirado e tenta sempre surpreender, sem necessariamente ter profundidade e engajamento para isso.
O longa surge como uma ficção científica sobre um ataque alienígena, mas aos poucos vai tentando dar passos mais longos e, ao final, tenta até oferecer uma reflexão maior sobre humanidade. Mas a palavra-chave aí é tentar. Extinção está o tempo todo tentando, mas quase nunca atinge o objetivo.
O elenco também não ajuda. Muitas vezes coadjuvantes de luxo, Peña e Caplan não possuem carisma o suficiente para comandar uma ação. Conhecido por Luke Cage, Mike Colter tem participação discreta.
Com efeitos especiais apenas razoáveis - sem nenhum grande destaque visual -, o filme conta com uma montagem problemática de Matthew Ramsey, que cuja maior experiência é na TV com produções como 13 Reasons Why e Grey's Anatomy. Há um claro problema de ritmo na obra, o que torna a experiência bem mais cansativa do que deveria, em se tratando de um longa de 95 minutos.
O ótimo diretor de fotografia Pedro Luque, de O Homem nas Trevas e O Silêncio do Céu, também não se salva, oferecendo um resultado apenas ordinário.
Um dos principais players do mercado audiovisual dos últimos tempos, a Netflix tem se preocupado muito em produzir a maior quantidade possível de conteúdos originais. Mas ainda esperamos que isso se converta em qualidade. Pois não tem sido o caso, como bem comprova Extinção.