Aprendendo a Voar.
Considerado um clássico entre gerações, Peter Pan já foi utilizado em diversas produções desde sua criação em 1911. A obra máxima do escritor J. M. Barrie sempre rendeu expectativa a cada novo anúncio, o que se manteve ante a nova produção que visa contar as origens deste simpático personagem londrino.
Curiosamente dirigido pelo experiente Joe wright, o filme narra a história de Peter (Levi Miller) desde o momento em que fora deixado na porta de um orfanato em Londres, período em que desenvolveu habilidades para lidar com pessoas que nem sempre desejam seu bem estar. Tudo ia "bem" até que um certo dia algumas crianças, incluindo o protagonista, são raptadas e levadas para uma terra desconhecida, local este que serve para apresentar não somente o vilão Barba Negra (Hugh Jackman), mas também as razões que motivarão grande parte da narrativa e a importância dada ao personagem título.
Embora seja baseada em uma história já presente na mente da maioria dos espectadores, aqui temos uma narrativa diferente, pois o objetivo do longa não é recontar a famosa saga do herói da Terra do Nunca indo direto ao ponto, mas localizar o público nos grandes ocorridos da vida do protagonista. Isso fica bem nítido quando o acompanhamos a descoberta do que houve com sua mãe; da apresentação e criação de afinidade com o Capitão Gancho; da descoberta de habilidades únicas. Isso impele um interesse maior na trama, afinal de contas faz uso do desenvolvimento mais racional sem jamais perder a essência fantasiosa que tornou o Peter Pan tão famoso.
Tecnicamente falando a produção é de encher os olhos, digo isso porque temos não somente um visual caprichado por conta das dezenas de milhões investidos, mas pela criatividade apurada, chegando a ser quase carnavalesco em muitas situações. A apresentação do vilão Barba Negra, ao som de Smells Like Teen Spirit do Nirvana, soa apoteótico, como se o apresentado fosse um ícone pop, que ainda abusa de sua chegada para mostrar que ele "é o cara". As cenas de ação, várias e engenhosas por sinal, também galgam de uma senso técnico brilhante, a começar pela perseguição de aviões a um navio voador em plena segunda guerra mundial, com uma fotografia linda e acinzentada, pontualmente definindo a realidade da época; temos também o "porto" comandado pelo vilão, um local cujo design soa brilhantemente inventivo, fazendo das embarcações meros encaixes acessíveis via teleféricos; a cidade em que Peter é recebido é multicolorida, justamente para fazer um contraponto com sua terra de origem, mesmo que seus habitantes não o recebam de braços abertos; a parte sonora também brilha, principalmente nas músicas orquestradas e bem utilizadas para pontuar a ação, chega a empolgar ouvir a maestria de John Powell nas cenas agitadas, agregando bastante valor às situações.
O elenco também cumpre bem seu papel, mesmo o pequeno Levi Miller consegue ser competente como protagonista e manter o carisma típico de Peter; Hugh Jackman também está ótimo, sendo sombrio e maquiavélico quando precisa; Rooney Mara como a Princesa Tigrinha é outra que é bem aproveitada em cena, pois é uma personagem forte e decidida; temos também Adeel Akhtar no papel de Smee, um divertido supervisor da mina onde a história tem início na Terra do Nunca que parece ingênuo e amedrontado mas deseja o bem acima de tudo; Garrett Hedlund como o Capitão Gancho e ainda amigo do protagonista, inclusive responsável por grandes feitos para ajudar Peter; entre outros com pouco tempo em cena como a bela Cara Delevingne (Sereia) e Amanda Seyfried (Mary Darling).
Também trazendo momentaneamente grandes antagonistas do original, como Sininho e o crocodilo, PETER PAN é uma obra cinematográfica que reconta um clássico de forma moderna e pop, sempre abusando da tecnologia e música em prol da narrativa. Tudo funciona bem, inclusive os fantásticos efeitos visuais amplamente utilizados no longa, até figurinos coloridos e quase carnavalescos, mas justificados para dar um ar mais familiar quando necessário. Apesar do design duvidoso dos pássaros darem a impressão de que algo saiu do rumo, o filme é de longe um entretenimento com diversão completa, utilizando até mesmo o Cirque du Soleil como fonte de inspiração.