Após a consolidação da nova geração dos X-Men na franquia nos cinemas em Dias de Um Futuro Esquecido, temos aqui a primeira chance deste novo time de atores e personagens mostrar que sobrevivem sem seus interpretes originais, como Ian McKellen e Patrick Stewart. Devo dizer que está missão foi cumprida, e muito bem cumprida. Mas o novo longa de Bryan Singer, infelizmente, apresenta alguns problemas, que por pouco, não comprometeram toda a produção.
Com uma historia se passando dez anos após os eventos do último filme (agora em 1983, para ser mais exato), a trama foca em Charles Xavier (McAvoy), que já iniciou seu projeto de educar e dar apoio a jovens mutantes, afim de garantir sua inclusão na sociedade. Com Magneto (Fassbender) e Mística (Jennifer Lawrence) foragidos e tentando levar novas vidas, os problemas para os mutantes (e para toda humanidade) vem do vilão com um nome bem sugestivo: Apocalipse (Oscar Isaac), é, segundo a lenda, o primeiro de todos os mutantes, surgido na época do Egito antigo, onde foi traído e acabou sendo aprisionado por milhares de anos, até despertar e começar a tramar seu plano para dominar ou destruir a humanidade, que ele acredita ser impura e corrupta. Aliando-se a mutantes como Tempestade e Magneto, revoltado com os seres humanos, Apocalipse inicia seu plano, mas precisará enfrentar a equipe jovem e recém formada dos X-Men.
Mais uma vez, temos uma trama bem traçada, porém, o filme irá deslizar por outros fatores, em especial, com relação a algumas atuações, desenvolvimento de personagens e suas motivações, que nem sempre convencem. O principal problema vem justamente de alguém que era motivo de orgulho nos dois últimos filmes: Jennifer Lawrence. A oscarizada atriz de Jogos Vorazes talvez nos apresente sua atuação mais fraca em toda sua carreira. Motivos? Desmotivação? Falta de interesse no papel? Brigas nos bastidores? Exigências não atendidas? Não sabemos. Mas o que se vê é a sua personagem sendo focada na trama, às vezes, quase que sem necessidade, impedindo personagens mais interessantes de se destacarem (como Jean Grey e Scott, por exemplo). Fica evidente seu descontentamento até pelo fato de que ela aparece mais em sua forma humana do que com a real aparência da Mistica – com direito a um furo do roteiro em uma passagem mais próxima ao fim.
Se o roteiro de Simon Kinberg (mesmo do filme anterior) acerta com as motivações da ainda jovem Tempestade (Alexandra Shipp), que espelha sua vontade de não se esconder por ser uma mutante na fama de libertadora de Mistica, por exemplo, erra em demonstrar as motivações dos demais vilões, em especial do próprio Apocalypse de Oscar Isaac, que mesmo sob a convincente e contida atuação, deixa um pouco a desejar por muitas vezes não expressar em suas atitudes o ódio que nutre pela humanidade – especialmente quando se refere aos humanos como apenas seguidores de falsos deuses e, também, por sua maquiagem irregular, lembrando, em alguns momentos, algum vilão de Power Rangers... (?!) – mas, felizmente, a concepção visual de seus infinitos poderes (que misturam características de quase todos os outros mutantes) é ótima, em especial quando simplesmente “derrete” alguns de seus oponentes humanos; outro que se sai de uma forma que poderia ser melhor é o Magneto de Michael Fassbender, que só não chega a decepcionar pela genialidade na atuação do próprio Fassbender, capaz de transformar a falta de motivos mais convincentes de sua entrada para o time de Apocalypse em algo aceitável, através de uma interpretação viva e cheia de sangue nos olhos – é tocante o momento em que ele vê a morte de sua esposa e filha, transpassando a dor da perda e saltando brilhantemente para a fúria pelo grupo de policiais responsável pela fatalidade que acabou com sua recém formada família – o roteiro e a atuação garante que o sentido de Magneto odiar os homens apareça – e, de fato, compensa alguma falta de criatividade até nos diálogos de seu personagem a seguir.
Se o filme se atrapalha por essas concepções erradas de alguns personagens no roteiro e atuações fora de foco, o mesmo não pode ser dito do restante: é inegável a habilidade de Singer em dar ritmo a historia e compor momentos expressivos, apoiados pela bela montagem e trilha-sonora de John Ottman (sim, o cara edita e faz a música da produção), seja para trabalhar com momentos mais emocionais, como a primeira aparição dos poderes de Scott/Ciclope (Tye Sheridan) em uma escola, ou na primeira e bela aparição da ainda adolescente Jean Grey (Sophie Turner, talvez o maior destaque do filme, bela atuação, em especial quando sua personagem precisa lidar com a importância e peso de seus poderes com as pessoas próximas a ela), seja também, é claro, para as cenas de ação, onde seu domínio nos enquadramentos deixa bem claro para o espectador tudo que é visto entrando e saindo da tela (alias, nem percam tempo vendo o 3D, se o cinema lhe der essa opção), com um destaque para uma cena divertidíssima onde Mercúrio (Evan Peters, se destacando de novo e, desta vez, com uma interessante ligação com um outro personagem), faz uso do mesmo recurso utilizado em Dias de Um Futuro Esquecido, só que desta vez elevado a uma potência bem maior, onde ele precisa resgatar uma grande quantidade de personagens naquele tempo tão rápido que só ele mesmo consegue notar – isso ao som de Sweet Dreams, do Eurythmics – alias a ambientação nos anos 80 ficou ótima, dando um toque de diversão muito bacana a toda a produção. Vai mais um destaque para o retorno do romance entre Xavier e a agente Moira (Rose Byrne), onde os dois atores se expressam de forma tocante – com destaque para McAvoy, que realmente se entrega ao personagem e é digno de elogios justamente pelo fato de apenas com sua atuação captar o poder de Charles em sentir emoções de outras pessoas, por isso, é incontestável o talento do ator em demonstrar isso sem a ajuda de nenhum efeito especial.
Enfrentando problemas com um desenrolar de motivações mal desenvolvidas em alguns personagens, X-Men: Apocalipse ainda é capaz de manter a nossa empolgação com este acerto da Fox com a serie de mutantes da Marvel – onde as palmas da platéia ao fim da sessão em que assisti o filme são mais do que merecidas. Com certeza 2016 é um ano onde os Nerds precisarão gastar muito dinheiro para conferir tanto filme de super-herói nos cinemas – e já digo que este X-Men é o melhor deles até agora.
*Tem cena pós crédito, sim...