Tenho muita admiração pelo trabalho do Quentin Tarantino. O cineasta é um dos poucos diretores que me levam ao cinema independente do que se trate a história de seus filmes. Muitos o idolatram, muitos o odeiam. Eu simplesmente acho que aquilo que ele faz é fantástico. Ele tem uma habilidade única de recortar várias referências e juntar tudo de maneira excepcional. Para isso é preciso muito talento, meus caros. Como sempre, ele tem o poder de criar diálogos incríveis, uma direção de atores fantástica, uma tecnicidade beirando a perfeição, e sangue... muito sangue jorrando na tela. Aqui, de certa forma, ele até me pareceu menos sanguinolento, embora a violência esteja presente desde o início do filme, e vá crescendo gradualmente até chegar ao limite do sustentável. Outra característica marcante de seus filmes é a construção dos personagens. Sempre muito bem concebida. Aqui, nenhum deles presta. Não há exatamente vilões e mocinhos. Há pessoas com suas convicções e que agem de acordo com o que lhes convém, mesmo que para isso precisem matar a sangue frio quem quer que seja. Basta a oportunidade surgir. Os atores são ótimos. Samuel L. Jackson, Jennifer Jason Leigh e Walton Goggins roubam cenas e tentam ver quem brilha mais a cada vez que surgem na tela. Seus personagens são os melhores da trama. Mas isso não tira o brilho dos outros. Kurt Russell, Tim Roth e Bruce Dern que o digam. Até o Channing “Magic Mike” Tatum está lá, dando muito bem a conta do recado. Em seus filmes, principalmente nos últimos, Tarantino sempre tenta dar um final apoteótico, e aqui isso se faz presente também. A trama te envolve, e depois de todos os segredos serem revelados, há as cenas marcantes que deixam seu selo de qualidade. Tudo bem, o filme em seu primeiro ato é um tanto cansativo. No início uma das coisas que mais chama a atenção é a belíssima paisagem nevada. A fotografia é linda, e a trilha sonora bem realçada. As coisas realmente ficam mais interessantes quando os tais oito odiados ficam isolados numa cabana. Embora algumas passagens sejam um tanto forçadas, não me lembro de nenhum americano que mostre escatologia de maneira tão crua, intensa e escandalosa (como na condução do capítulo em que o personagem de L. Jackson narra o que fez com o filho do personagem do velho Dern), mas ainda assim condizente com todo o argumento da trama. Embora seja um filme com vários momentos excepcionais, não é o melhor filme do diretor (e convenhamos, nem o pior). Quando o cineasta chega a certo patamar, as expectativas sempre se tornam grandiosas. Nesse caso, ainda sendo um filme excelente, é mais fácil achar pontos negativos aqui do que em outros filmes dele como Bastardos Inglórios e Django Livre. Muitos dizem que ele anda se repetindo demais, e de certa forma acho que isso tem ocorrido, mas também penso que faz parte. De qualquer forma, é um filme que adorei. Padrão alto de qualidade, só que digo e repito, não é para todos os gostos. Se você não conhece muito o estilo do diretor, não acho que começar pelo Os Oito Odiados seja a melhor opção. Vi várias pessoas falando que odiaram o filme na saída do cinema. Não os condeno, e nem serei arrogante ao ponto de dizer que não entenderam o filme. A questão aqui é que Tarantino faz filmes para um nicho específico. Se você não curte faroeste, nem violência do nível hard, nem diálogos sarcásticos, este filme definitivamente não é para você. Mas se você gosta de um pouco que seja de estilo, seja bem-vindo a um legítimo Tarantino e dificilmente se decepcionará.