Em relação aos filmes "O Jardim dos Esquecidos" (Flowers in the Attic) e sua continuação “Pétalas ao vento“ (Petals in the wind), filmados em 2014 e baseados em romances de Virginia C. Andrews, de 1980, não podemos deixar de colocar que os “furos”, as incongruências e os hiatos são tantos e tão evidentes que o espectador é levado simplesmente a naturalizá-los, ou seja, não mais percebê-los, não pensar neles!
Querem alguns exemplos?
Filme 1 - “O Jardim dos Esquecidos”:
O sobrenome da família é Gallagher ou Foxworth?
Se Corine e Christopher são na realidade sobrinha e tio e se Christopher é irmão de seu pai, o sobrenome seria Foxworth.
Parece besteira, mas não é tão simples assim criar um novo sobrenome e utilizá-lo em todos os atos da vida civil, inclusive documentos dos filhos...
A avó, que se encarrega de diariamente alimentar os 4 netos que até então eram completos estranhos para ela, é uma bruxa... A mãe, que os abandona à própria sorte enquanto organiza festas, namora e viaja, além de tentar envenená-los, resultando na morte de um deles, é uma “coitada”...
Convém também notar que a "coitada" (que manteve um relacionamento incestuoso com o próprio pai, antes de fugir com o tio) herda tudo (bens, casa, poder) e a "bruxa" não herda nada!
O filho morre e não é enterrado. Simplesmente deixou de existir? É fácil assim fazer uma criança desaparecer nos EUA?
Os três filhos sobreviventes fogem de casa sem documentos e atravessam a fronteira do Estado. Ninguém os abordou?
Filme 2 - “Pétalas ao vento“:
Em tendo atravessado a fronteira do Estado sem documentos, os 3 irmãos, sendo dois adultos jovens e uma criança são adotados por um homem rico...Adotados? Sem documentos? Sem contatos com família ou autoridades do Estado de origem?
Na "cena da escada", quando Cathy desmascara a mãe e conta a todos que está grávida do padrasto mais uma vez os papéis de "bruxa" e "coitada" são postos à prova, já que a avó - agora inválida em uma cadeira de rodas e completamente refém da filha Corine, que planeja interná-la em um asilo - confirma toda a história da neta e não ajuda a filha com suas mentiras.
No final da história, novamente assumindo o nome Gallagher, os irmãos passam por um casal com filhos. É fácil assim nos EUA? Ali não se exigem documentos para registrar crianças ou matriculá-las na escola? Se aqui no Brasil seria impossível, imaginem lá então...
Feitas estas ponderações e apontamentos, direi que uma vez que naturalizamos e passamos a não enxergar todos estes "furos" e equívocos de condução, acabamos por considerar que assistimos a dois belos exemplos de romances góticos (o que inclui, evidentemente, o bizarro e o tétrico), transformados em filmes!