Terror justificável
por Bruno CarmeloEveleigh Maddox (Isla Fisher) é uma jovem profundamente perturbada. Enquanto supera o trauma de um acidente de carro, responsável pela morte de uma criança, descobre que está grávida e passa a sofrer com alucinações na nova casa em que mora. Ela compartilha seus distúrbios com o médico e o marido, mas todos preferem acreditar que se trata de um simples stress pós-traumático. A Última Premonição pertence ao subgênero do terror destinado a explorar os limites de mulheres frágeis, histéricas e possivelmente psicóticas, numa filiação clara a clássicos como O Bebê de Rosemary.
Infelizmente, o diretor Kevin Greutert (Jogos Mortais - O Final) não possui o mesmo talento de Roman Polanski. Seus recursos estilísticos e narrativos se resumem aos clichês mais gastos do horror: trilha sonora tensa antecipando os momentos chocantes, uma coleção de sustos atrás da porta, sustos no corredor, invocações satânicas, bonecos de vodu, cômodos escuros demais, névoa espessa para confundir a visão, seres misteriosos de capuz escuro desaparecendo assim que a protagonista vira as costas etc. A narrativa se limita a sugerir um complô, possivelmente coordenado pelo próprio marido de Eveleigh, por sua melhor amiga ou pelos vizinhos – mais uma vez, em referência a O Bebê de Rosemary.
O elenco tampouco ajuda. Isla Fisher é uma atriz limitada, incapaz de trazer ambiguidade ao papel principal. O pouco conhecido Anson Mount é ainda mais fraco, enquanto Eva Longoria e Jim Parsons são particularmente mal escolhidos para seus papéis. O resultado é uma ambientação falsa: o perigo é forjado por recursos artificiais, as atuações possuem um pavor forçado. É difícil imergir na trama, principalmente com uma sequência de sustos desconexos, incluindo garrafas de vinho que estouram, moedas que ficam de pé, barras de metal da cama que se entortam e se rompem. De onde viria tudo isso? Que força do mal seria capaz de retorcer canos, afastar cadeiras? Acima de tudo, que interesse o poder sobrenatural poderia ter na manipulação desses objetos?
O clímax, por incrível que pareça, responde de maneira satisfatória a essas perguntas. Os filmes de terror com surpresas no final, do tipo que mudam a interpretação de tudo que vimos desde então, costumam fornecer explicações inverossímeis apenas pelo prazer do choque. A Última Premonição é um dos raros filmes que parecem incoerentes, até todos os elementos serem justificados na reta final. Talvez a explicação seja fantasiosa demais, mas dentro deste universo de crença sobrenatural, possui seu sentido. Acima de tudo, a revelação das visões de Eveleigh associa uma série de fenômenos desconexos, sem deixar fios soltos.
Pelo senso de organização, o projeto se destaca em relação a histórias de terror semelhantes. O caminho é desprovido de originalidade e coroado por atuações risíveis, mas a sessão pode cumprir a função de filme B razoavelmente bem-sucedido.