História para crianças
por Francisco RussoÉ curioso notar como, na cultura brasileira, existe o costume em lançar versões infantis de personalidades. De Pelezinho ao Senninha, passando ainda por Neymar, Xuxa e Ronaldinho Gaúcho, várias foram as tentativas de associar o carisma de famosos aos ideais ligados ao seu ganha-pão, sempre com uma certa ingenuidade inerente ao fato de serem crianças. O mesmo acontece em As Aventuras do Pequeno Colombo, bem intencionada animação brasileira que aposta na infantilização de ícones históricos para navegar, de forma turbulenta, por um universo repleto de aventuras mágicas e misteriosas.
Dentro desta proposta, o diretor Rodrigo Gava e o roteirista Clewerson Saremba não apenas entregam versões diminutas de Cristóvão Colombo, Leonardo Da Vinci e Mona Lisa como promovem mudanças para torná-los mais atraentes ao seu público-alvo - a começar pelo modo como são chamados: Cris, Leo e Lisa. Se por um lado o filme até entrega algumas referências históricas acerca dos personagens, mais perceptíveis aos maiores, o objetivo principal é mesmo integrá-los em um ambiente de amizade em torno do desafio que eram as grandes navegações. E, é claro, dar um jeito de trazê-los ao Brasil, ou melhor, à "ilha" de Hi-Brasil.
Por mais que traga uma animação até mesmo interessante, em 2D com elementos computadorizados, As Aventuras do Pequeno Colombo tem um problema sério de ritmo. Várias sequências são arrastadas e desnecessariamente longas, onde até mesmo os diálogos soam sem o timing natural de uma conversa. Tal característica prejudica o filme como um todo, tornando-o extremamente cansativo apesar da curta duração: apenas 80 minutos. Além disto, há equívocos consideráveis em relação ao modo como certos personagens são apresentados, gerando situações preconceituosas em relação às mulheres e aos negros.
Bastante esquemático, As Aventuras do Pequeno Colombo pouco a pouco caminha rumo ao fantástico de forma meio desengonçada, com confrontos mal justificados, disposto a promover a qualquer custo um suposto clímax grandioso que jamais convence. Como curiosidade, fica o fato de ser este o último filme com José Wilker, que dublou o conde Saint Germain há mais de três anos - ao todo, o longa levou oito anos até chegar ao circuito comercial -, e a facilmente identificável voz de Isaac Bardavid, o Wolverine nas versões dubladas.
Filme visto no 49º Festival de Brasília, em setembro de 2016.