Não foi a toa que este filme conquistou o Óscar em cinco categorias: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original, Melhor Direção de Arte em Preto e Branco e Melhor Edição e, ainda, indicado em outras cinco categorias: Melhor Ator (Jack Lemmon), Melhor Atriz (Shirley MacLaine), Melhor Ator Coadjuvante (Jack Kruschen), Melhor Fotografia em Preto e Branco e Melhor Som.
Billy Wilder é um diretor competentíssimo que fez clássicos da comédia romântica como: Quanto Mais Quente Melhor ( 1959), Sabrina (1954), e também clássicos do gênero noir, como: Crepúsculo dos Deuses (1950), Pacto de Sangue (1944) e Farrapo Humano (1945). O currículo é extenso e este filme não é diferente dos outros.
Querendo agradar seus chefes imediatos, tentando ser reconhecido e, por conseguinte, ter sucesso em sua carreira, um homem solteiro (Lemmon) empresta seu apartamento aos executivos casados, para que eles pudessem “praticar” adultérios. Tudo muda quando C.C. Baxter (Lemmon) se apaixona por Kubelik (MacLaine), amante do chefe geral do departamento Sheldrake (MacMurray).
Primeiramente, a direção do Wilder, assim como a direção de arte e fotografia é impecável em retratar o mundo corporativo. Os planos abertos em foco para um departamento gigante, bem iluminado, mas sem janelas (pois ter janelas é um luxo dos superiores, assim como a privacidade), com milhares de mesas em perfeita geometria com as luzes do teto. Sempre temos a sensação de que os trabalhadores formam uma manada, na qual raramente você consegue ser notado. É impressionante como os espaços são retratados, e como o quão gigante e ao mesmo tempo apertada uma sala ou um apartamento pode ser. É possível citar inúmeras outras cenas maravilhosamente bem planejadas.
O roteiro é brilhante: simples, diálogos e narrativa inteligentes. A pista plantada para que, mais tarde, o protagonista descobrir que Kubelik é amante de Sheldrake foi muito bem pensada. E o fato de que raramente conseguimos descobrir o primeiro nome de um personagem (pois quase todos são referidos pelo sobrenome) aumenta a sensação de impessoalidade e descaso.
O filme também consegue abordar inúmeros temas do cotidiano e uma crítica sutil a temas muito controvertidos para a época: o adultério; o mundo corporativo; a relação entre vizinhos (intrometidos); as relações familiares nas diversas classes sociais, entre outros. Contudo, acredito que o este roteiro conferiu um ritmo um pouco lento ao filme, com cenas que dão a impressão de serem longas, devido aos planos longos.
A atuação é ótima. Baxter (Lemmon), possui, desde o início, uma característica duvidosa, por emprestar seu apartamento em troca de favores. Mas, ao contrario de que se espera, o espectador simpatiza com ele e a amante de Sheldrake, Kubelik (MacLaine), quando constatamos a vulnerabilidade, inocência e a fragilidade deles, diante de seus chefes aproveitadores e mal intencionados.
O filme é classificado como comédia, mas ela vem de uma maneira bem sutil, pois sentimos muito as frustrações, os obstáculos, e a melancolia. Longe de se tratar de um filme vitimizado e triste, o humor e romance se encontram e se desenvolvem sem qualquer esforço.