Trata-se da história, baseada em fatos reais, do imigrante nigeriano Dr. Bennet Omalu (Will Smith), neuropatologista forense que desenvolveu pesquisas em medicina esportiva.
Sensível e excêntrico (vide o hábito incomum de conversar com os mortos antes de lhes realizar a autópsia), o personagem muito bem composto por Will Smith é, na verdade, um gênio, com múltiplas formações acadêmicas e experiências profissionais, especializado na “ciência da morte”. Após realizar a autópsia de um famoso ex-jogador do esporte, Dr. Omalu se depara com um caso incomum de deterioração precoce do cérebro.
Seguindo seu padrão de excelência profissional, Dr. Omalu desempenha pesquisas para melhor compreender o esporte (já que não é um jogo comum em seu país) e encontrar uma relação causa/efeito entre a pratica esportiva e os traumas. Dessa forma, Dr. Omalu conduz estudos que associam traumas cerebrais com os frequentes choques cranianos recebidos por jogadores de futebol americano.
Naturalmente, a Liga Nacional de Futebol (NFL) tenta, de todas as formas, desacreditar os trabalhos de Dr. Omalu. Por conta da enorme pressão sofrida, o aparentemente inabalável médico, à beira do desencanto do sonho americano, passa, então, a refletir sobre os rumos de sua vida.
Will Smith, demonstrando habitual competência, carisma e versatilidade, desempenha uma boa interpretação de um personagem estrangeiro. Com destaque para o sotaque, é capaz de transmitir brilhantemente a figura de um imigrante africano obstinado, de caráter irretocável, religioso e dedicado ao trabalho. Tendo em mãos um roteiro simples mas bastante eficaz, Smith transparece, com poucos recursos cinematográficos, uma bem dosada carga de emoção, até mesmo em cenas em que não há diálogos.
O mesmo não se pode dizer da atuação dos coadjuvantes, inclusive a de Alec Baldwin, com atuação segura mas pouco destacada. Há ainda personagens mal trabalhados, como o médico que se indispõe gratuitamente e de forma caricatural com Dr. Omalu.
Além disso, não convence o romance hollywoodiano e previsível entre Dr Omalu e Prema Mutiso (interpretada por Gugu Mbatha-Raw), com direito a um momento vergonha alheia (cena da boate) que introduz a aproximação amorosa do casal. As raras tentativas de humor tampouco funcionam.
O roteiro é sucinto é eficaz, trazendo à tona o lado sombrio do esporte, em que seus próprios organizadores relutam em reconhecer o risco absolutamente grave a que estão submetidos os praticantes profissionais, sujeitos à perda de memória, alucinações, demência e, até mesmo, ao suicídio.
A exemplo de “O Informante” (1999), em que são revelados os segredos da indústria tabagista para levar as pessoas ao vício do cigarro, "Um Homem entre Gigantes" pode ser considerado um filme denúncia, que certamente causará a reflexão quanto à segurança dos atletas de futebol americano e atingirá, principalmente, a audiência de locais onde o esporte é mais popularizado.