Optando por uma temática muito recorrente nos filmes de ficção científica da atualidade, na provisão apocalíptica de uma sociedade no futuro, Equals (2015), de Drake Doremus, circunscreve o caos como um mal interno e, talvez, muito mais atual do que imagina-se. Para isso, direção atrelada ao sincretismo audiovisual são os princípios que descrevem uma experiência perceptiva que reverbera mais dos sentidos do espectador e de sua percepção.
A narrativa prevê, em um futuro, uma sociedade distópica resultante de um bombardeio que dizimou quase toda a população. Bem organizados e concentrados, seus indivíduos se mantêm indiferentes a qualquer tipo de sentimento, dentro de um complexo tecnologicamente muito evoluído. A proposta é sustentada pela imposição de regras sociais culposamente obedecidas, como: não se relacionar afetivamente e fisicamente com as pessoas. Mas o ideal é ameaçado pela SOS (Switched-On-Syndrome), epidemia que torna as pessoas mais sensibilizadas às vivências do cotidiano, corrompendo a estabilidade da nova civilização e levando os infectados ao banimento ou ao suicídio. Não há explicação de sua origem, nem uma cura efetiva, quando Silas (Nicholas Hoult) começa a apresentar os primeiros estágios sintomáticos da doença, ao perceber algo de diferente em sua companheira de trabalho, Nia (Kristen Stewart).
O enredo pode rememorar filmes como A ilha (2005) de Michael Bay ou O doador de memórias (2014) de Phillip Noyce, ou ate mesmo Equilibrium (2003) de Kurt Wimmer, mas, diferentemente, Equals requer, com poucos efeitos visuais, planos mais longos ou sequenciados em um ritmo narrativo reduzido, uma experiência sobre os estágios das relações amoroso-afetivas, a partir das experimentações do som e imagem orquestrados na tela. Neste não há a representação expressa do governo ditador/controlador (apenas sua citação, provando que não mais este seria o foco), mas, apropriadamente, o simbolismo de questões subjetivas tão quanto ditatoriais. A repressão é interna (ou de fato um recalque) que, sustentada pela culpa e os juízos de valor, controla os personagens em prol da manutenção da estabilidade do indivíduo (e da sociedade) sob o vigilante superego. Nesse sentido, a culpa, na descoberta do amor, e a necessidade de cura ou de banimento, como punição aos infectados, se tornam tão evidentes quanto necessários.
Na construção do cenário técnico da película fílmica, o primeiro plano e o close são os narradores principais de um discurso sincrético em que o som e a imagem descrevem o relacionamento amoroso entre os personagens centrais afetados pelo medo da rejeição social, mas implacável aos sentidos (pulsão incontrolável). Então não se vê nem se ouve mais a música isoladamente, mas experimenta-os como um só, ao passo que narram as vontades e desejos dos infectados, contra as perspectivas de isolamento e individualidade da sociedade. Condicionantes que induzem o envolvimento à trama de modo a incitar a sensibilidade do espectador para com as descobertas dos novos sentimentos por parte de seus atores, quase possibilitando sentir o mesmo que eles, mesmo quando a atuação de Kristen Stewart não comove nem impressiona.
Parafraseando com o estágios de uma doença a narração descreve o surgimento e o desenvolvimento do ideal imaginário de amor entre duas pessoas. Nessa lógica entende-se Freud quando afirmara que um dos mais importantes ocasionadores do sofrimento humano são os relacionamentos. Dessa forma o amor/relacionamento é a patologia que inevitavelmente conduziria suas vítimas ao sofrimento/morte, seja quando não atende às imposições sociais ou as demandas internas, mas é, também, contraditoriamente, condicionante da existência do homem enquanto tal, sempre tendencioso a burlar o seu antídoto.