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    Pais e Filhas
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Pais e Filhas

    Pelas belas, recatadas e do lar

    por Renato Hermsdorff

    Tristeza, morte, surto psicótico, internação e nem cinco minutos de projeção. O início de Pais e Filhas deixa claro porque, com esse título (Fathers and Daughters, no original, a tradução, aqui, é literal), a distribuidora não esperou até o Dia dos Pais para lançar o filme de Gabriele Muccino (À Procura da Felicidade). Trata-se de uma produção sem alma que forçosamente pesa a mão em busca do choro da plateia.

    Esquemático, o roteiro do estreante Brad Desch conta duas histórias que correm em paralelo. Na primeira delas, que tem início em 1988, vemos o bem-sucedido escritor Jake Davis (Russell Crowe) perder a esposa em um acidente de carro, desenvolver uma condição física que pode evoluir para surtos psicóticos, passar por um período de internação e, apesar dos pesares, dedicar um carinho sem fim à filha pequena (interpretada pela ótima Kylie Rogers). As convulsões servem para Crowe “exercitar” seu lado “dramático”. Ele é uma espécie de pastiche do John Nash, Jr que o próprio ator interpretou em Uma Mente Brilhante.

    Na outra ponta, que tem lugar no presente, Katie Davis (Amanda Seyfried) é uma garota recém-formada em psicologia, que não vê problemas em beber uma Heineken ou três de vez em quando, e leva uma vida sexual descompromissada. Apesar da aparente normalidade, é uma garota “oca”, incapaz de amar. Ela é um protótipo do Brandon, personagem de Michael Fassbender, de Shame.

    Claro, o sobrenome não é coincidência. Katie é a filha de Jake – não é segredo (ou spoiler) – e o descompasso emocional entre os dois é tamanho, que o filme tem o mérito de incutir a dúvida na cabeça do espectador. O quê de tão grave teria acontecido entre os dois? Você vai querer saber. (Embora a resposta não seja exatamente a revelação de nenhum segredo de Pandora).

    Melodrama clássico – daqueles que a trilha se sobressai na orientação dos sentimentos –, quase folhetinesco, recheado de “momentos-Kodak”, o filme seria inofensivo, não fosse pelo julgamento moral que voluntaria ou involuntariamente faz da personagem de Seyfried.

    Ao pressupor que existe um trauma (necessariamente nocivo) no comportamento sexualmente liberado da personagem, a produção assume uma postura de que bem-vistas devem ser aquelas que são belas, recatadas e do lar. Afinal, em tempos em que se discute o tal empoderamento feminino, ser dona do próprio corpo (e do próprio copo), não pode (deve) ser uma opção das moças – como o são dos rapazes?

    Pais e Filhas, assim, é, em última análise, uma produção antiquada.

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