Nesses grupos de debates da vida, alguns dias atrás, me deparei com uma situação complicada. Eu elogiava um filme argentino e outro senhor, me cobrava, a meu ver, mais patriotismo e entusiasmos para com o cinema nacional. A discussão se desenvolveu, eu me defendendo com meus argumentos e outro senhor me dizendo que o cinema nacional era tão igual ao argentino. Essa discussão não nos levou a lugar algum no momento, mas refletindo sobre o acontecido no dia seguinte, me ocorreu algo.
Entre os argumentos desse senhor, um deles era mais valorização com o cinema nacional. Na hora achei um absurdo, pois já assisti vários filmes nacionais bons, até citei para ele na hora, e nem se quer citei cidade de deus e tropa de elite, então, fui procurar sobre quais escrevi e então? Não havia escrito sobre nenhum. Então fiquei na obrigação de ser mais sincero comigo mesmo e escrever sobre alguns filmes bons feitos aqui no Brasil.
Nada de comédias românticas com astros do standup, e assim filmes que trazem aquele gosto e orgulho do que é feito aqui no Brasil. Então, ai vai um filme brasileiro ganhador de prêmios internacionais e super aplaudido.
Este que é um dos melhores filmes nacionais já feitos nos últimos tempos, pois o tema é tão complexo como explicar a bomba atômica, talvez. Hoje eu quero voltar sozinho, mostra um espaço da vida complexo e confuso para todos. Não há quem não tenha passado pelo dilema da adolescência. É uma fase difícil de entender, imagina demonstrar isso em imagens de um filme?
Mas o diretor se safa muito bem na busca do primeiro amor dos adolescentes, Giovanna, Gabriel e Leonardo. Lógico que a problemática em volta do Leonardo é intensa, pois sofre duplamente por ser cego e gay, mas de forma delicada, esses problemas vêm e aparecem de forma simples na vida dos três e de forma singular para cada um.
Na de Giovanna, talvez seja a mais comum dos três, a mais linear e tradicional possível, mas que se vê inserida numa situação complexa entre seus amigos. O Gabriel me deixa com a impressão de que ele já sabia suas opções e seus gostos, e sua sexualidade já estava definida e bem clara na sua cabeça.
Já o Leonardo traz toda a problemática do filme, pois no decorrer dos dias do Léo, vão surgindo dúvidas e se descobrindo algumas questões na vida desse adolescente. O problema físico de Leonardo já está superado e essa questão da falta de visão se apresenta na forma de preconceito, seja da família, altamente protecionista, ou no colégio, por colegas que se aproveitam da falta de visão dele para dar risada de algumas situações.
Mas o problema principal de Leonardo é a sexualidade. E aí que vem a parte interessante desse emaranhado de problemas adolescentes, pois essa questão vai se desenrolando com uma naturalidade e com uma calma impressionante, pois as respostas vão surgindo se mostram como um todo no final do filme. Sem pressa, a questão se mostra para o trio, para escola, para a família e assim por diante. Sem atropelos, mas sempre sendo objetivo, o diretor traz uma serenidade para obra da forma com que ele aborda tudo isso.
Portanto, é uma história complexa, mas que se mostra muito particular para qualquer um que assiste. Pois, independente do que acontece com o Leonardo, todo mundo sofre por amores infantis, e todo mundo descobre o amor na adolescência. Talvez seja essa questão, afinal, do filme, ser comum a qualquer olhar.