O porquê que gostamos de “Hoje eu quero voltar sozinho”.
Eu poderia iniciar esse texto com um legível e, de certo modo, sonoro “sei lá”. O filme aborda um período da vida que todos nós já passamos, ou um dia passaremos: a adolescência. Com todas as suas dificuldades, alegrias, tristezas e decisões, não apenas passamos por essa fase, não apenas contemplamos as diferenças criadas e/ou existentes no mundo e em nós mesmos, mas vivemos – e da maneira mais intensa possível, a nosso ver. Existimos como se não fossemos mais existir no amanhã. Pensamos, projetamos, esperamos e vivemos um constante conflito, no qual nossas poucas experiências (desprezadas, em sua maioria, por adultos que se esqueceram de como foi sua própria adolescência) buscam satisfação em nossas constantes, e imensas expectativas, ao mesmo tempo em que lutamos contra discursos calcados em “no meu tempo” ou no clássico “são apenas rebeldes sem causa”. Dessa maneira, retratar uma fase tão conturbada da vida de uma pessoa da maneira retratada no filme nos chamou atenção por se diferir das demais narrativas atuais (fílmicas, inclusive) que visam confundir o público a fim de transporta-lo para o universo caótico da cabeça de um adolescente. Porém, o que assistimos durante todo o caminho de volta dos personagens é a simplicidade de viver. Leonardo (Guilherme Lobo), um estudante cego, tenta viver sua vida da maneira que para ele é a mais apropriada, sem desprezar aqueles que o cercam. Ele e sua amiga Giovana (Tess Amorim), e posteriormente seu amigo/namorado Gabriel (Fábio Audi), descobrem os prazeres de viver a partir de um olhar simplista da absorção do mundo e das possibilidades que este apresenta ao redor. A simplicidade aqui não se torna um subterfúgio para a falta de criatividade ou para a divulgação de um trabalho não bem acabado. Ao contrário! O simples, na verdade, mostra que em meio a uma sociedade cada vez mais caótica, na qual voltamos a desprezar o microcosmo do autoconhecimento humano a fim de eleger grandes histórias capazes de explicar um todo fictício, ainda nos sensibilizamos com o comum, com o corriqueiro. Ainda nos sensibilizamos com o dia-a-dia duramente criticado por aqueles que fazem do “largar tudo” um certificado de superioridade intelectual e social (ideia trabalhada no texto do pessoal do Glük Project). Nos sensibilizamos com as relações humanas, sejam elas expressas da maneira, forma, cor e sabor que for. O filme mostra, ou pelo menos mostrou para nós, que temos sede da ausência “dos grandes planos”, ou seja, que temos saudades do tempo presente. Temos vontade de viver o agora, sem que isso seja encarado como irresponsabilidade ao nos negarmos a pensar o ser humano como um ser que sofre com o passar do tempo. O que esperamos é poder nos transformar com o tempo, não negando o lado ruim dessas transformações, porém nos permitindo apenas viver. Sendo assim, o filme é, na verdade, um convite a todo aquele que deseja não mais voltar, seja para “onde” for, sozinho.