Hoje eu quero voltar sozinho é uma transpiração de sutileza e naturalidade quanto aos assuntos abordados. Mesmo que o assunto principal seja a homossexualismo, o mais visível é o bullying e a presença dele no dia-a-dia de um adolescente normal. Leonardo é cego de nascença, mas não se abala por isso, porém o que realmente o reprime são as pessoas ao seu redor, como a mãe, a melhor amiga e os colegas de classe - que tem como foco principal irritar e infernizar Leonardo por qualquer tropicada que ele der por não ver o que há em seu caminho. A chegada de Gabriel, não na escola, mas na vida de Leonardo muda tudo. O que era para ser uma história sobre a rotina de um garoto cego se torna uma história de amizade, compreensão, auto-descoberta e aceitação.
A história é muito bem trabalhada do início ao fim. A química que rola entre os dois garotos é tão visível que é impossível não se envolver e ficar de coração apertado até o desfecho. Como o próprio diretor já havia pontuado, quem espera sair de casa para ver dois adolescentes no auge dos hormônios, não negando fogo em momento algum vai se decepcionar... quem espera ver o amor desabrochar vai encontrar sem muito esforço.
Nas partes de bullying, é possível ver uma insistência apenas na questão de Leonardo ser cego, afinal, ninguém sabia que ele era gay - nem o próprio. E, quando a zoação começa também neste âmbito, não é nada confirmado, apenas suposições pelo fato de Leo nunca ter ficado com ninguém e ter criado laços fortes com Gabriel.
O elenco principal dá um show de atuação, é impossível não sair da sessão não imaginando como que o menino Ghilherme Lobo não é cego! Tess Amorim, em alguns momentos, passa a insegurança do seu personagem para todos, seja na forma de falar, seja na forma de agir ou as caras e bocas toda vez que recebe um corte despretensioso da parte de Leonardo. Fabio Audi é uma surpresa a parte, é o mais velho do elenco principal e trouxe para o Gabriel uma personalidade fofinha de "namoradinho dos sonhos", mas sem ficar muito preso à isso.
Há furos no roteiro? Com certeza há, pois quem não ficou curioso para saber como seria a reação dos pais de Leo ao descobrir sua homossexualidade? Entretanto, ao mesmo tempo, é compreensível que o relacionamento entre os garotos seja gradativo: hoje eles se beijam, amanhã eles se descobrem apaixonados, semana que vem eles se aceitam e engatam um relacionamento. À certa altura do longa, os pais se tornam segundo plano, o que daria um ótimo assunto para uma continuação.
O findar da história é, de certa forma, surpreendente porque o que se espera de Leonardo é a resposta de sempre, no mesmo nível dos colegas, mas ele resolve que responder à todos os questionamentos deles é muito melhor para deixar tudo claro de uma vez por todas.
Como um todo, Hoje eu quero voltar sozinho é um filme leve, não sexualizado -
para não dizer que a insinuação não está presente em parte alguma, tem a cena do banho, em que os olhares de Gabriel são mais que sugestivos
-, que não perde o fio do enredo e que, se possível, deve ser assistido por todo mundo. E ele prova que o amor não é cego, mas que ele pode vir de qualquer direção, cegando-nos por completo.